Negócios e inovação: sustentabilidade é necessária para o ambiente e economia
A 6.ª edição da Millennium Talks realizou-se na manhã de 9 de outubro, na Arena d"Évora, e contou com a presenta do Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro.
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Foi para debater o futuro das pequenas e médias empresas em Portugal que se juntaram em Évora vários empresários e especialistas em economia, sob o mote "Inovação para a Sustentabilidade". A 6.ª conferência Millennium Talks trouxe para o centro da discussão questões como o financiamento dos pequenos negócios, mas também a forma como estes podem crescer sob alicerces sustentáveis, tanto em termos ambientais, como sociais e económicos.
Miguel Maya, presidente da Comissão Executiva do Millennium bcp, abriu a conferência sublinhando que empresas alentejanas "se afirmam em mercados exigentes e altamente competitivos". O responsável alertou para o facto de 65% das empresas portuguesas estarem sujeitas aos riscos físicos provocados pelas alterações climáticas, sendo que, nesse sentido, é necessário apostar num modelo de desenvolvimento económico capaz de superar as adversidades que podem estar por vir.
Como exemplo desses mesmos riscos, o ministro do Ambiente recordou que, desde 1950, Portugal "já perdeu 13 quilómetros quadrados de costa" e que, nos últimos 11 anos, sete foram de seca, estando a chuva concentrada "em períodos curtos de intensidade elevada e potencial destruidor". Mas se, por um lado, é crucial mudar a forma como os negócios são feitos, atendendo à procura de um mundo mais sustentável, é igualmente importante fomentar a economia e ajudar os pequenos e médios empresários a prosperar.
Por esse motivo, Gonçalo Regalado, diretor de Marketing de Empresas, Negócios e Institucionais do Millennium bcp, explicou que os pedidos de crédito para as empresas são apenas concedidos quando é apresentado um projeto sustentável, sendo "a sustentabilidade uma condição de acesso". Por 99% das empresas portuguesas se enquadrarem na categoria de micro, pequenas e médias e empregarem quase 80% dos trabalhadores, torna-se fundamental conseguir que cresçam e que o façam em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Empresários pedem que os apoios dados pelo governo sejam pensados para toda a fase do negócio e não apenas para o início
Depois destas intervenções seguiu-se um debate moderado por Rosália Amorim, onde empresários falaram sobre os passos a seguir no que toca a apoios para a inovação na sustentabilidade. Foi lançado aos intervenientes o desafio de propor uma medida que devia constar no Orçamento do Estado no âmbito do investimento para os empresários e, apesar de terem tido ideias diferentes, houve um ponto em comum em todos eles: ninguém pediu mais dinheiro.
Clara Moura Guedes, CEO da Monte do Pasto, uma empresa de criação de bovinos, pediu que não se olhe para os setores de maneira estigmatizada e que o enquadramento fiscal seja mais favorável. A empresária considerou que não devia ser necessário as empresas precisarem de apoios e que a existência de medidas pressupõe celeridade na sua execução, uma vez que, atualmente, "com a necessidade de mudança, quando as coisas se resolvem, já não são precisas".
A par da rapidez, o professor do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e Sócio-Gerente da AGRO.GES Francisco Gomes da Silva apelou a que o orçamento preveja a duração "necessária para que a execução dos fundos comunitários não abrande", ou seja, que os apoios não tenham apenas em conta a fase inicial do projeto.
Já João Pedro Salema, CEO da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, considerou essencial "garantir a execução dos projetos que estão em marcha", realçando que não acha que o "país deva ambicionar gastar menos água", mas sim "gastar mais", mas geri-la melhor. Foi nesse sentido que Pedro Lopes, presidente da Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal, lembrou que Portugal é dos "países com melhor tecnologia hídrica no campo da olivicultura" e que, por isso, "conseguimos regar de forma eficiente".
Vasco Cortes Martins, CEO da Nutrifarms, concordou com este ponto, lembrando que para se ser eficiente tem de se regar melhor e "otimizar os recursos", sendo por isso crucial não esquecer que não basta ser sustentável a nível ambiental porque "se não houver retorno económico", as empresas fecham a porta.
No entanto, nem sempre o retorno económico traz consequências positivas ao negócio. "Estamos a ser penalizados por ter crescido". Foram estas as palavras de Manuel Bio, CEO do Grupo Abegoaria, que passou de média a grande empresa e ficou sem apoios. Para o empresário, todos os benefícios dados poderiam ser trocados "por um apoio sem crédito fiscal, sem burocracias".
A conferência terminou pouco depois das 13h00, com o discurso de João Nuno Palma, vice-presidente do Millennium bcp. O economista concluiu com a ideia que foi também passada no início: "a característica mais presente num empresário alentejano é a capacidade de resiliência".