A 5.ª edição das Millennium Talks - COTEC Innovation Summit realizou-se em Braga, no Dia Mundial da Criatividade e Inovação. Recorde os melhores momentos.
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As pequenas e médias empresas (PME) perfazem a grande maioria do tecido empresarial português, mas os desafios que se têm colocado à competitividade e à inovação têm-se acumulado. Às alterações climáticas somam-se as dificuldades em atrair e reter talento e a necessidade de transformação digital. E tudo isto num contexto de pós-pandemia e atual guerra na Ucrânia, com todas as consequências que este conflito trouxe para a Europa.
Face a esta conturbada conjuntura internacional, a pergunta dos gestores é uma: afinal, como fazer a minha empresa crescer? Foi também essa questão central da 5.ª edição das Millennium Talks - COTEC Innovation Summit. A sessão realizou-se no Altice Forum Braga, em pleno Dia Mundial da Criatividade e Inovação, a data ideal para se discutir o futuro da economia nacional.
O primeiro orador a subir ao palco foi Miguel Maya, CEO do Millennium bcp, que salientou a complexidade da atual conjuntura macroeconómica e reconheceu a esperança. "Estamos perante uma oportunidade ímpar para transformar estruturalmente a competitividade da economia portuguesa", disse. Os fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do Portugal 2030 são uma "oportunidade singular" para tal, mas também trazem uma "responsabilidade coletiva pela sua aplicação em projetos e iniciativas de promovam e potenciem o desenvolvimento económico", afirmou.
"Estamos perante uma oportunidade ímpar para transformar estruturalmente a competitividade da economia portuguesa"
António Rios Amorim, Presidente da COTEC Portugal, foi o segundo orador a tomar a palavra nessa manhã. Enquanto líder da Associação Empresarial para a Inovação, não pôde deixar de referir a importância de se discutir a inovação do setor privado no Dia Mundial da Criatividade e Inovação. Durante a sua intervenção, reforçou que "a aplicação de tecnologias digitais" e o cumprimento dos critérios ESG são fatores de sobrevivência para as empresas. Além disso, revelou a ambição de ver "50% do financiamento dos doutorados realizados em ambiente empresarial". O objetivo? Aproximar o conhecimento da academia às necessidades reais das empresas.
A este respeito, a Professora Elvira Fortunato, Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, admite que "tem de existir maior aproximação entre o mundo académico e o empresarial", destacando um dos esforços que se tem feito nesse sentido. A recente "abertura de um concurso para a atribuição de bolsas de doutoramento em ambiente não académico" já reuniu "400 manifestações de interesse" por parte de entidades, incluindo empresas, divulgou.
Ainda assim, disse a ministra, "temos um sistema científico e tecnológico muito mais próximo do ecossistema empresarial e indústria". Não só as universidades e politécnicos perceberam que "o conhecimento produzido dentro da academia e dos laboratórios ganha tanto mais sentido quanto mais for desenvolvido e aplicado ao e no interior do tecido empresarial e industrial", como as empresas e indústria entenderam "que quanto mais próxima for a relação com a comunidade científica, mais disruptivos e inovadores serão os produtos e serviços", explicou.
Determinantes para o futuro da relação entre as empresas e academia são os fundos do PRR e do Portugal 2030, que pretendem desenvolver e reforçar a inovação, investigação e digitalização. Para ajudar as empresas a executar os seus projetos no âmbito destes programas, o Millennium bcp criou a M2030, a primeira plataforma colaborativa desenvolvida para o efeito no país. A iniciativa foi anunciada no palco do Altice Forum Braga por Gonçalo Regalado, Diretor de Marketing Empresas & Negócios deste banco.
Jorge Portugal, Diretor-geral da COTEC Portugal, tomou de seguida a palavra com uma questão: "Consideramos mesmo que o conhecimento que temos disponível nas nossas empresas está à altura das expetativas e das oportunidades que o mercado está a oferecer?". Para responder à pergunta, referiu o exemplo das Inovadoras COTEC, um "conjunto de empresas que tem vindo a estruturar a economia de inovação". Salientou também a importância do sistema científico para ganhar valor económico e a necessidade de os conhecimentos e competências dos próprios trabalhadores precisarem de evoluir com os tempos.
Para ajudar as empresas a executar os seus projetos no âmbito destes programas, o Millennium bcp criou a M2030
À intervenção de Jorge Portugal seguiu-se o debate sobre "Inovação e Sustentabilidade no Centro da Produtividade". Aos oradores foi lançado o desafio de identificarem os obstáculos na implementação da inovação nas suas áreas de atuação. João Nuno Palma, Vice-presidente do Millennium bcp, foi o primeiro a responder: "Na atividade do Millennium bcp, temos de estar constantemente a antecipar as necessidades dos nossos clientes. Quase diria prever o futuro". Para Ana Raquel Vieira de Castro, Chief Executive Officer da Vieira de Castro, a falta de tempo é o maior desafio, porque "queremos fazer tanta coisa que o tempo não chega" e por isso é "fundamental planear e ser rigoroso na forma como planeamos".
Já "equipas com diversidade e com competência, dinheiro e capacidade de o arriscar e capacidade de execução e resiliência" foram as escolhas de Miguel Pedrosa Rodrigues, Corporate Manager da Pedrosa & Rodrigues. Isidro Lobo, General Manager da José Júlio Jordão, destacou o reforço dos recursos humanos enquanto José Gomes, Chief Operating Officer do Grupo AGEAS Portugal, salientou a necessidade de "reinvenção", não só prevendo o futuro, mas agindo sobre ele.
E não é possível falar sobre os desafios da inovação sem referir uma das instituições europeias que mais tem ajudado as empresas a superá-los. Trata-se do Banco Europeu de Investimento (BEI), cujas funções e responsabilidades foram explicadas à audiência pelo seu Vice-presidente, o Professor Ricardo Mourinho Félix. Ao apoiar as PME, o objetivo do BEI "não é financeiro". "O que buscamos sobretudo é o impacto económico, é melhorar a vida dos cidadãos, trazer financiamento privado e fazer inovação". É por isso que avalia os projetos consoante "o valor que geram para as economias". Desde 2021, por exemplo, o BEI recusa-se a cofinanciar projetos que violam o Acordo de Paris.
Na reta final da sessão, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, salientou que 2023 será um ano decisivo para o país tendo em conta que será o ano do efetivo arranque do PRR, "uma corrida contrarrelógio", descreveu. Para que o país chegue a tempo, deixou alguns conselhos ao Estado e às PME.
Aos responsáveis políticos, Marcelo Rebelo de Sousa pediu para facilitarem a "tarefa dos empresários", ou seja, "não introduzir fatores de instabilidade, de imprevisibilidade e de insegurança num período tão crucial" como o do arranque do PRR e do Portugal 2030. Caso não cumpram esta condição, será necessário "introduzir um fator adicional político complementar a meio deste período de execução de fundos", afirmou. A concretizar-se, este cenário "seria uma má notícia", mas, avisa Marcelo Rebelo de Sousa, "às vezes tem de haver más notícias", embora admita que tal não é o ideal. Já aos empresários, o Presidente da República pede apenas que façam o que o próprio faria: "Se eu estivesse do vosso lado, eu investia, eu inovava. Era um risco, mas um risco menor do que o risco da omissão ou o da passividade".