Com a Cimeira do Clima das Nações Unidas a debater questões de saúde pública, pela primeira vez, a organização do Encontro GSK | ViiV Healthcare com representantes de pessoas com doença trouxe as alterações climáticas para debate e reflexão.
Corpo do artigo
Decorreu no passado dia 7 de dezembro o Encontro GSK/ViiV Healthcare, que junta todos os anos diversos especialistas e associações de doentes para promover a literacia em saúde. O tema deste ano foi "Viver com Doença em Portugal: Desafios Ambientais, Sociais e Económicos", uma escolha justificada por Erik King, diretor-geral da GSK Portugal: "a realidade mostra que os doentes, sobretudo os crónicos, são os mais vulneráveis e quem mais dificuldades sente".
André Mendes, Country Manager da ViiV dedicada exclusivamente à área do VIH, completou a explicação com o estigma ainda associado a esta doença, mas também a viver com doença, no geral: "a falta de informação contribui para a discriminação e para os mitos que prejudicam as pessoas que vivem com os problemas".
"Quase 40% das pessoas com VIH já viveram alguma forma de estigma ou discriminação e no caso da doença mental há comportamentos discriminatórios transversais"
Ana Rita Goes, da Escola Nacional de Saúde Pública, confirmou com números a persistência do estigma e preconceito. "Quase 40% das pessoas com VIH já viveram alguma forma de estigma ou discriminação e no caso da doença mental há comportamentos discriminatórios transversais em toda a sociedade incluindo nos cuidados de saúde".
Alterações climáticas, saúde e literacia
Para explicar os desafios económicos de viver com doença em Portugal participou na sessão apoiada pelo Diário de Notícias e a TSF a fintech Doutor Finanças, que dedicou uma ação de formação aos conceitos de poupança focados nos doentes crónicos e nas necessidades de aforro para períodos de carência e reforma.
As questões ambientais, as que mais dominaram esta ação, começaram a ser levantadas por Rui Costa, que já coordenou o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. "Talvez até os profissionais de saúde fiquem surpreendidos, mas 99% da população mundial respira ar poluído, sendo que em grande parte do planeta o ar ultrapassa níveis de segurança definidos pela OMS, a partir dos quais há desenvolvimento de várias doenças", afirmou, especificando sobretudo as respiratórias, alérgicas e ligadas à insuficiência cardíaca.
Luís Campos, do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, alertou que "os principais desafios que a sociedade vai enfrentar nos próximos anos estão associados à sustentabilidade ambiental. O presidente da associação que reúne diversas organizações empenhadas em mitigar o impacto das alterações climáticas na saúde humana e reduzir a pegada ecológica do sector apontou a necessidade de todas as decisões do Estado, dos serviços, das empresas e dos cidadãos terem essa preocupação.
"99% da população mundial respira ar poluído, sendo que em grande parte do planeta o ar ultrapassa níveis de segurança definidos pela OMS, a partir dos quais há desenvolvimento de várias doenças"
Ficou sublinhada a ideia de que dominar o tema ajuda a prevenir e a proteger quem vive com doença, porque até os profissionais de saúde foram acusados de estarem alheados do fenómeno tal e qual como do contributo para a literacia em saúde. "É preciso transformar o jargão técnico em linguagem acessível, clara e simples", pediu Cristina Vaz de Almeida. "Não se trata de infantilizar, mas de facilitar a vida a todos nós", disse a responsável da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde citando um estudo de 2016 em que 36% dos profissionais de saúde revelou falhas de literacia.
Participação nas decisões
Comparativamente a outras sessões, foi notada desta vez a ausência de queixas dos doentes relativamente à representatividade nas estruturas que implementam as políticas de saúde. A crítica passou a ser outra: Ana Sampaio, da Plataforma Saúde em Diálogo, que agrega mais de 60 entidades do setor, acusou as entidades de chamar as associações apenas quando as decisões já foram tomadas. "Queremos integrar as resoluções que nos dizem respeito. Não nos basta chegar quando já existe um documento e nos pedem para o avaliar, queremos fazer parte do grupo que o redigiu porque temos contributos fundamentais".
Ana Sampaio, da Plataforma Saúde em Diálogo, que agrega mais de 60 entidades do setor, acusou as entidades de chamar as associações apenas quando as decisões já foram tomadas
Maria de Belém Roseira lembrou que foi no tempo em que chefiou o Ministério da Saúde que o doente ganhou estatuto e passou a fazer parte do sistema. Para reforçar este desígnio, citou palavras ainda recentes do psiquiatra Júlio Machado Vaz que disse não gostar de ter o doente no centro do sistema, mas o sistema centrado no doente. Ao comentar a atual situação e ainda temas ligados à contínua falta de interesse dos decisores por adotar mais políticas de prevenção, a antiga ministra sublinhou a falta de operacionalidade entre ministérios que, na maior parte das vezes, trava políticas e projetos que poderiam facilitar a vida dos doentes.
Faltam associações nacionais
Carla Pereira, em representação da Diretora-Geral da Saúde, aproveitou a sessão de enceramento para apontar uma dificuldade ligada às questões de representatividade: "há diferentes níveis de responsabilidade e representatividade e poucas associações têm âmbito nacional. Interessa-nos a participação de todos, mas contemplando também as diferenças regionais mesmo com um país pequeno".
A Chefe de Divisão de Planeamento e Melhoria da Qualidade da DGS considerou que já existem algumas associações nacionais, mas exortou à criação de outras. Pode ver ou rever a conferência aqui.