Há cada vez mais acidentes com aviões em voos de instrução. Na Costa da Caparica uma aterragem na praia matou, em 2017, duas pessoas.
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O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) teme que a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) esteja a fiscalizar pouco aquilo que se faz nas escolas de voo, alertando para o aumento de acidentes.
A preocupação está no relatório, lido pela TSF, que avaliou o acidente que em agosto de 2017 matou um homem e uma criança numa praia da Costa da Caparica. Análise que concluiu que o acidente aconteceu por uma falha no motor e pela má reação do piloto instrutor de voo.
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No entanto, as falhas do instrutor que acabaram com o descontrolo da aeronave e a aterragem na praia têm segundo o GPIAAF uma origem mais profunda que levou o relatório a fazer duas recomendações ao regulador da aviação em Portugal.
O documento diz que a Escola de Aviação Aerocondor, dona da aeronave, teve um enorme crescimento de atividade, apesar da diminuição do número de instrutores de voo ("agravada por uma rotação elevada dos mesmos"), sendo "eventualmente insuficiente o acompanhamento pelo regulador (ANAC) através de apenas uma auditoria anual", havendo "falta de acompanhamento da estrutura de suporte que esteve na base da certificação".
Sem coletes salva-vidas
"Para a investigação ficou clara a existência de falhas na formação aeronáutica do piloto instrutor no seguimento de procedimentos e atualização de práticas e métodos de ensino" que acabaram por estar na origem do acidente.
Algumas falhas relatadas passam por não existir no avião qualquer colete salva vidas e pela falta de treino para a manobra de amaragem (que teria evitado a aterragem na praia).
Outro problema: a escola de voo usava uma checklist com "diferenças significativas" nos procedimentos de emergência em relação ao estabelecido pelo fabricante no Manual de Operações do Piloto aceite pela ANAC, seguindo procedimentos não aprovados pelo regulador.
Regulador recusa todas as recomendações
Razões que levam o GPIAAF a fazer várias recomendações à ANAC, nomeadamente que reavalie os procedimentos seguidos nesta e noutras escolas de aviação, também avaliando melhor o desempenho dos pilotos instrutores.
As recomendações foram, no entanto, rejeitadas pela ANAC que, em resumo, diz que já faz tudo aquilo a que está obrigada, rebatendo ponto por ponto as críticas do GPIAAF.
Mesmo assim o GPIAAF fez questão de manter as recomendações no relatório final, acrescentado que tem existido um "incremento significativo de incidentes envolvendo aeronaves em instrução e com um número preocupante com contribuição ou envolvimento direto de instrutores", sendo "crucial a supervisão da ANAC". "É do entendimento da investigação que um operador comercial que ministra formação com o objetivo de atribuição de licenças profissionais deverá seguir um conjunto de práticas comuns, únicas e não sujeitas ao julgamento de cada instrutor".
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