As 100 voltas ao sol da "mulher computador" que ajudou o Homem a chegar à lua
Conheça a história da cientista centenária da NASA que lutou contra a discriminação e inspirou um filme de Hollywood.
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Mulher, negra e cientista, Katherine Johnson é muito mais do que o computador humano que ajudou o Homem a chegar à lua. A investigadora da NASA que celebrou este domingo um século de vida é a prova de que a educação é uma das armas mais poderosas contra as barreiras da discriminação racial e de género.
Numa época em que não existiam computadores e todos os cálculos científicos eram feitos à mão, Katherine Johson desempenhou um papel fundamental no programa espacial dos Estados Unidos da América, em plena Guerra Fria, quando os EUA disputavam a corrida espacial com a União Soviética.
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Entre outros feitos, Johnson calculou trajetórias e janelas de lançamento [período de tempo em que todas as condições estão favoráveis para o lançamento de um foguetão, por exemplo], nomeadamente aquelas que tornaram possível que John Glenn fosse o primeiro americano a orbitar a Terra, em 1962, ou que o Homem chegasse à lua, em 1969.
A luta para se afirmar além do tom de pele e do género foi travada com sucesso ao longo de toda a vida e a empreitada começou bem cedo.
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Como as crianças negras não podiam frequentar a escola pública depois de concluírem o ensino básico, os pais conseguiram que Katherine Johnson frequentasse o ensino secundário no campus que hoje é a Universidade Estadual da Virgínia Ocidental. Concluiu o ensino secundário aos 14 anos e entrou nessa instituição historicamente reconhecida por formar pessoas negras, onde estudou Matemática e Ciências.
Das cadeiras da faculdade passou para o papel de professora, de acordo com a CNN, e, mais tarde, em 1953, foi convidada para trabalhar no Centro de Investigação de Langley da instituição que deu origem à NASA, no Estado de Virgínia, graças a uma ordem executiva que proibia a discriminação racial e que obrigou a agência espacial a recrutar pessoas negras com diploma universitário tirado na década de 1940.
O grande público conheceu a história de vida de Katherine Johnson quando, em 2016, o realizador Theodore Melfi se inspirou no trabalho da cientista e de mais duas colegas (Mary Jackson e Dorothy Vaughan) para criar o filme Hidden Figures.
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A película conta as dificuldades que o grupo de matemáticas negras enfrenta quando, para além de provar sua competência, tem de lidar com o preconceito para conseguir ascender na hierarquia da NASA. Por serem negras, estas mulheres trabalhavam num anexo isolado do Centro de Investigação e não podiam sequer usar a mesma casa de banho que os trabalhadores brancos.
Katherine Johson foi interpretada pela atriz Taraji Henson e foi homenageada durante a cerimónia dos Óscares de 2017.
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Este não foi, no entanto, o único reconhecimento público da cientista que em 2015 recebeu, pelas mãos de Barack Obama, a Medalha Presidencial da Liberdade, o título honorífico mais importante dos EUA.
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A universidade onde estudou prestou-lhe recentemente uma homenagem ao criar uma bolsa de estudo com o seu nome e ao inaugurar, este sábado, uma estátua de Katherine Johnson na instituição. O senador democrata de Virgínia Ocidental, Joe Manchin, citado pelo The Independent, que esteve presente na cerimónia sublinhou a marca que a cientista pode deixar nos futuros investigadores: "Tenho esperança que os estudantes que passam por [esta estátua] todos os dias se lembrem do legado de Katherine e se inspirem para manter viva a sua paixão pelo conhecimento."
Numa entrevista ao Daily Press, Katherine Johnson que se reformou em 1989 atribuiu a sua longevidade à sorte e aos jogos de bridge [um jogo de cartas] e de tabuleiro em que costuma participar: "Eu sou apenas sortuda. O Senhor gosta de mim. E eu gosto dele."