Um ano após os incêndios de outubro, a TSF foi para o terreno ver o andamento dos trabalhos e saber o que têm a dizer as vítimas das intervenções em curso.
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Um ano após os incêndios de outubro que afetaram vários concelhos da zona Centro do país, atingindo perto de 1500 casas, muitas das moradias estão ainda por arranjar. Os seus habitantes continuam alojados em casas arrendadas, de familiares e amigos ou mesmo em instituições sociais.
A TSF foi para o terreno ver o andamento dos trabalhos e saber o que têm a dizer as vítimas das intervenções em curso.
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Na Adiça, em Tondela, visitámos a casa de Hermínia Marques, numa altura em que as obras estão paradas. Entrámos na moradia.
Antes do fogo a habitação tinha rés-do-chão e um primeiro andar e agora apenas um piso. Hermínia Marques diz que "fizeram o projeto sem" lhe "dizer nada, nem onde ficava nada, nem a quantidade que iam aumentar".
A octogenária confessa que há coisas que não estão a seu gosto. Uma das principais queixas é a inexistência de uma janela na cozinha.
Hermínia garante que após a tragédia não anda a mesma. Conta que anda muito em baixo. A viver com um sozinho, só deseja voltar para o seu espaço.
"A minha casa é a minha casa, mas também vai ser uma tristeza quando eu voltar porque eu perdi tudo o que tinha, todas as recordações, nem uma fotografia da minha família tenho, fiquei sem nada", lamenta.
Em Lobão da Beira, visitámos a habitação onde vivia Fernando da Encarnação com a mulher, a filha e uma neta, e que está em fase de acabamentos. Enquanto isso não acontece, esta família permanecerá numa moradia mesmo ao lado da casa que ardeu.
Da mobília pouco ou nada sobrou e Fernando só espera que a Câmara ou a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro ajudem no recheio da nova moradia, que foi reconstruída com o apoio do seguro e do Estado.
"As promessas são muitas e as ajudas às vezes são poucas", afirma.
Fernando gostava de passar os anos da neta, a 31 de outubro, no edifício que nos mostrou, mas sabe que isso vai ser impossível, mas o Natal vai ser lá passado, garante.
Quem reza por quem perdeu o lar faz agora um ano e para que estes regressem às suas casas o quanto antes é Piedade Fernandes, habitante em Adsamo, em Vouzela.
Esta idosa, que há três meses está a viver juntamente com o filho numa habitação que foi reconstruída, conta que chorou "muita lágrima" pela sua "casinha".
"Muitos estão, coitadinhos, a viver tristes por não ter a casinha. Já hoje pedi a Deus e peço a Deus nosso senhor para os ajudar a ter uma casinha como eu desejava ter a minha", refere.
Piedade agradece as ajudas que recebeu e assegura que gosta do novo teto, mas não esconde que a porta de entrada ser em vidro é algo que a assusta.
Em Vouzela, já foram entregues oito habitações permanentes, esperando a Câmara Municipal que as 43 casas que arderam estejam todas prontas até ao verão do próximo ano.
Já as casas de segunda habitação devem permanecer em ruínas porque a autarquia não tem condições de se endividar para as recuperar.
"O certo seria o Estado apoiar a reconstrução. As casas estão destruídas, as pessoas não vão ter capacidade para as reconstruir, vão deixar de vir e vamos ficar ainda mais desertificados do que estávamos", argumenta o vereador na autarquia, Pedro Ribeiro.
A Câmara de Tondela pensa de forma diferente. O presidente do município, José António Jesus, até admite ajudar a levantar casas de segunda habitação, mas apenas e só depois de todos os que ficaram sem teto estarem alojados nos seus lares e mediante certas condições.
"Terá que ser a demonstração de que aquela habitação tinha fornecimento de eletricidade e água para se poder verificar que não era uma habitação devoluta", explica.
Em Tondela, já foram entregues 50 moradias de habitação permanente, estimando o autarca local que estejam concluídas até ao final do ano as obras de recuperação da maioria das 120 casas atingidas pelas chamas.