A TSF visitou a unidade de hemodinâmica do Hospital de Santo António, no Porto, e assistiu a uma intervenção em que os médicos salvam o coração, entrando pelo braço. Se sentir uma dor no peito não desvalorize. Pode ser um ataque cardíaco.
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Apenas 37% dos doentes que sofrem um enfarte ligam para o 112 para receber assistência. Os doentes demoram em média 90 minutos a pedir ajuda. Uma dor no peito deve ser despistada, porque pode fazer a diferença entre a vida e a morte. É esta a mensagem que a iniciativa Stent for Life quer fazer passar.
Na sala de hemodinâmica do Hospital de Santo António, faz-se cirurgia de filigrana. João Silveira é o cardiologista que coordena a equipa. Estão cinco pessoas à volta deste doente que é operado apenas com anestesia local. Uma operação destas custa ao Estado, em média, entre 8 a 10 mil euros. O doente só paga a taxa moderadora.
Os médicos entram no coração pelo braço. O acesso pode ser radial ou femural. "Em 98% dos casos, nós picamos a artéria do braço, metemos um tubinho e depois metemos um cano grande, que são os cateteres. Portanto, todo o material que vai para o coração vai através deste cateteres. São cateteres-guias", explica o médico.
As próteses introduzidas são pequenas redes de metal ou cobalto cromo que ficam dentro da artéria. É esta a ideia básica da angioplastia. Mas para o doente aqui chegar, há um número que é preciso saber. "Tem que pedir ajuda. E pedir ajuda para nós é ligar o 112, porque o doente não deve vir pelo seu pé, porque pode ter uma paragem e pode morrer de morte súbita".
O INEM encaminha o doente não necessariamente para o hospital mais próximo, mas para o hospital que está em condições de dar mais rapidamente resposta ao enfarte do miocárdio. "A terapêutica correta, se a artéria está tapada, é abrir a artéria completamente, fazer o restabelecimento do fluxo da artéria ao músculo do coração e aí nós metemos a tal prótese para manter a artéria aberta, porque geralmente é parte da parede que se rompe e forma-se um coágulo. Nesses casos, aspiramos o trombo, metemos a prótese e o doente fica bem", adianta João Silveira. Isso significa salvar a vida.
Mário Santos, tem 56 anos. É porteiro num prédio. Eram 6h20 da manhã de sábado, estava a acabar o turno, quando se sentiu mal: "Deu-me umas tonruras muito fortes, calores e dor no peito. Foi aí que vi que alguma coisa não estava bem. Liguei para o 112 e trouxeram-me para aqui".
"A dor no peito é o principal alerta", sublinha o cardiologista. "Pode ter também uma manifestação de enjoo. É essencial que peça ajuda, que não fique ali a fazer uma massagem ou que peça à mulher um cházinho". O doente tem que acreditar que é um enfarte. Mesmo que não seja. Às vezes mais vale prevenir que remediar. A sabedoria popular não engana.
Mário fuma muito. Ou fumava. Agora já usa o verbo no passado: "Fumava um maço por dia". Nos últimos sete anos, deixou de fazer atividade física. Promete voltar a fazer qualquer coisa, "pelo menos caminhar", para "recuperar o tempo" que perdeu nestes sete anos por não fazer nada. O tempo que podia ter perdido para sempre.
João Silveira traça o retrato típico do doente coronário: "Quase todos eles fumam, têm tensões altas, colesterol alto, quase todos eles são sedentários". Mas, faz questão de frisar, "o tratamento continua com a correção dos hábitos". Caso contrário, a prótese de pouco serve. A doença é crónica. E volta se o doente não mudar o estilo de vida. Se não tiver atividade física, se não tiver cuidado com a alimentação, se fumar. São fatores de risco que, misturados, podem tornar-se um cocktail explosivo.
Dor no peito, falta de ar, suores, náuseas, vómitos. Ligue 112. Pode ser um enfarte agudo do miocárdio, mais conhecido como ataque cardíaco. Pode ser a diferença entre a vida e a morte. A diferença entre chegar ou não a tempo do médico lhe picar o braço e corrigir o coração.