
Miguel Midões/TSF
A Escola Secundária José Falcão tem 80 anos e nunca recebeu uma intervenção de fundo. A degradação salta à vista de qualquer um que atravesse o grande corredor de entrada da escola e as salas de aula.
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Os alunos levam mantas para se taparem do frio e o diretor da escola garante que "só pode ser por gosto" que as centenas de alunos frequentam ainda esta escola.
Os "remendos" e pequenas reparações são feitos a "espremer" o orçamento da escola. Mas, a força do tempo leva a direção da escola a concluir que só uma intervenção de fundo pode solucionar o problema e evitar um acidente futuro.
A degradação é visível logo no exterior: vidros partidos, humidade e bocados de parede que caem. Mas, é no interior que o cenário se agrava ainda mais. "Azulejo que está a sair, em muitas partes da escola; o piso tem umas bolhas que acabam por saltar e provocar umas crateras, e a própria estrutura é uma delícia, porque os alunos podem chegar aqui e observar as diversas camadas, desde a armação em ferro até às sucessivas camadas até ao exterior", enumera.
Paulo Ferreira é o diretor da Secundária José Falcão, o antigo liceu de Coimbra. A escola tem 900 alunos, que contornam os baldes que aparam a água da chuva e que trazem mantas para se resguardarem do frio. "As infiltrações, o bolor e o frio já fazem parte do dia-a-dia da José Falcão. Ou é um cano que rebenta, ou um azulejo que cai, ou a eletricidade que vai abaixo, isto é uma caixinha de pandora".
Há luzes que saíram do teto para evitar um curto-circuito, os ginásios cheiram a mofo e a tinta salta das paredes.
A José Falcão esteve por duas vezes, nos seus 80 anos de história, à porta de receber uma intervenção de fundo. Das duas vezes, essa porta foi fechada. "Não chegou a bom porto o acordo entre a Parque Escolar e o ministério. E agora, com muita pena nossa, com o mapeamento da CIM e as verbas do Portugal 2020, que são muitos milhões, também não fomos incluídos".
É um edifício classificado como de "Interesse Público", e está nos primeiros lugares dos rankings nacionais... como se justifica? Explica o diretor Paulo Ferreira: "os meus alunos gostam de cá andar. Vêm de mantas para a escola e estão nas aulas de manta. É porque gostam mesmo".
Petição da Associação de Pais quer chegar à Assembleia da República
A Associação de Pais e Encarregados de Educação da Secundária José Falcão criou uma petição para alertar a opinião pública acerca do estado de degradação do antigo liceu de Coimbra. O objetivo é que o assunto chegue à Assembleia da República. O objetivo está praticamente atingido, já conta com mais de 3400 assinaturas. Precisa de quatro mil.
Nuno Martins é membro da direção da Associação de Pais, é também arquiteto. Diz que os problemas da escola vão para além da humidade e do frio. Há graves problemas na estrutura do edifício. "Há aqui problemas de degradação de rebocos, que estão a levar que muitas das armaduras de pilares e de vigas estejam à vista. Isso é uma situação preocupante porque coloca em causa a estabilidade do edifício", alerta.
Quanto à petição que está a circular, o arquiteto Nuno Martins, que já foi aluno da José Falcão, está convicto de que vai chegar à Assembleia da República. "Vai suscitar um debate na AR, e esperemos que essa atenção colocada sobre este estabelecimento de ensino leve à tal intervenção que é urgente. Não é premente, é urgente", adianta.
A Escola Secundária José Falcão, em Coimbra, é uma obra arquitetónica. É imóvel de interesse público. Foi projetada pelo arquiteto pioneiro do movimento moderno em Portugal, Carlos Ramos, com parceria de Jorge Segurato.