Estudo conclui que uso de antibióticos em Portugal é, em muitos casos, desnecessário e contribui para o elevado número de mortes por bactérias multirresistentes.
Corpo do artigo
Um estudo do Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla inglesa), a que a TSF teve acesso, conclui que um em cada três doentes internados na Europa recebe pelo menos um antibiótico enquanto está internado. A média europeia é de 33% mas em Portugal a média é de 40%.
Ouvido pela TSF, Dominique Monnet, do ECDC, considera que o uso de antibióticos nos hospitais e unidades de cuidados continuados é muitas vezes exagerado, imprudente e põe em risco a saúde dos utentes.
TSF\audio\2018\11\noticias\15\maria_miguel_cabo_antibioticos
O especialista explica que em Portugal o uso de antibióticos é, em muitos casos, desnecessário e contribui para o elevado numero de mortes por bactérias multirresistentes: "Quanto mais um país usa antibióticos nos hospitais, mais as bactérias que causam infeções nesses hospitais se tornam resistentes aos antibióticos. Por isso, não é de estranhar que Portugal seja um dos países com maior mortalidade devido a infeções por bactérias resistentes."
Dominique Monnet aconselha os hospitais portugueses a cortarem nos antibióticos e a apostarem em alternativas que afetem o menor número de microrganismos. "Precisamos de usar os antibióticos de forma mais prudente, deixar de pensar que são precisos mais do que dois dias, e os hospitais precisam de melhorar o sistema de prevenção e controlo de infeções", nota o especialista.
Pelas contas do ECDC, todos os anos há 9 milhões de infeções hospitalares na Europa. Muitas dessas infeções resultam, por exemplo, em pneumonias e complicações pós operatórias e mais de metade podiam ser evitadas.
O estudo decorreu nos últimos dois anos e envolveu mais de 310 mil pacientes de 29 países.
Num comunicado enviado à TSF, a Direção-Geral da Saúde (DGS) esclarece que os dados do estudo em causa "apenas têm em consideração uma subamostra dos hospitais/UCCI portugueses, por imperativos de metodologia estatística, nunca devendo ser comparados os dados de Portugal com os restantes países da UE/EEE, uma vez que estes não estarão padronizados pelas diferenças existentes a nível dos vários sistemas de saúde europeus".
A DGS compromete-se ainda a apresentar, já a 19 de novembro, os resultados portugueses, que "evidenciarão a evolução ocorrida no país nos últimos anos, sem recorrer a subamostras, promovendo assim uma maior transparência na divulgação de dados".