Ouvido no Tribunal de Leiria, o investigador Xavier Viegas relacionou a falta de limpeza e as falhas nas comunicações com o número de vítimas do incêndio de 2017.
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O perito Xavier Viegas acredita que a falta de limpeza e gestão de combustível junto à Estrada Nacional 236-1 está relacionada com o número de mortes ali provocadas pelo incêndio de Pedrógão Grande, em 2017.
"Estou convencido que pelo menos algumas das mortes ter-se-iam evitado, porque, naquele troço de estrada, a existência de tanta vegetação, nomeadamente árvores, mesmo encostadas aos rails da estrada, provocou uma concentração de calor tão grande na estrada que tornou impraticável que as pessoas sequer saíssem dos carros, porque começava a roupa e o cabelo a arder", explicou hoje aos jornalistas, depois de ouvido no Tribunal de Leiria.
"Constatamos que existia ali um pinheiro que caiu na estrada e que impediu a circulação de pessoas. E pelo testemunho de algumas pessoas que perderam familiares, podiam ter conseguido sair de lá", acrescenta o investigador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra.
Questionado esta manhã pelo juiz de instrução no Tribunal de Leiria, no processo que investiga responsabilidades nas mortes e ferimentos ocorridos durante o incêndio de Pedrógão Grande, em 2017, com início a 17 de junho, Xavier Viegas diz que as falhas nas comunicações estão na origem da falta de socorro a algumas vítimas: "Talvez se pudessem ter evitado umas cinco ou seis mortes".
O especialista critica também a estrutura de bombeiros, por considerar que nem sempre garante a pessoa certa no local certo.
"Devemos saber, em cada caso, que qualificações é que um dado comandante tem, que nível de dificuldade de incêndio é que ele está apto a comandar. E se não estiver nessas condições deve ser chamada outra pessoa ou deve ser apoiado por todo um sistema que está por trás dele para o ajudar na tomada de decisão", salienta Xavier Viegas.
A instrução do processo relacionado com as mortes e ferimentos no incêndio de Pedrógão Grande tem já nova data marcada para o mês de abril. Há 13 arguidos, entre eles estão autarcas, dirigentes da Proteção Civil e dos bombeiros e gestores da EDP e da Ascendi.