O Café Memória de Barcelos é um espaço de encontro para pessoas com problemas de memória ou demência, para familiares e cuidadores. Em dois anos de vida já acolheu mais de 500 pessoas, o que prova a importância da partilha de experiências e da entreajuda para reduzir o isolamento social.
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O Café Memória Barcelos nasceu há dois anos para apoiar pessoas com problemas de memória ou demência e os seus familiares e cuidadores.
Desde 2017 já reuniu mais de meio milhar de pessoas que encontram nesta iniciativa um espaço de encontro e de partilha de experiências e suporte mútuo, que ajuda a melhorar a qualidade de vida e a reduzir o isolamento social em que muitas delas se encontram.
"O projeto pretende ser, ao mesmo tempo, inclusivo e de luta contra o estigma. Os pacientes são muito bem-vindos mas, naturalmente, a maior fatia das presenças são de cuidadores", revela Zeferino Ribeiro, psiquiatra e diretor clínico da Casa de Saúde S. João de Deus, entidade responsável pelo Café Memória Barcelos.
As sessões mais participadas são aquelas em que os cuidadores encontram informação sobre as mais diversas dúvidas relacionadas com a dimensão do doente e do cuidador, questões que são esclarecidas naqueles encontros por profissionais. "Podemos ter um enfermeiro a falar das questões de saúde, um médico neurologista, um médico psiquiatra ou um fisioterapeuta. Já tem havido sessões de exercício físico na esplanada do café quando o bom tempo o permite. Também já tivemos um jurista a falar de questões médico-legais", exemplificou Zeferino Ribeiro.
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O Café Memória Barcelos é, pois, um espaço onde se partilham dúvidas e angústias de quem se dedica por inteiro a cuidar de outra pessoa. "Os cuidadores são pessoas, de facto, muito desgastadas porque cuidar do seu familiar que está doente é um trabalho em full time que acumula com outras responsabilidades" alerta o médico psiquiatra.
"Os cuidadores têm, muitas vezes, um sentimento de culpa tremendo se deixarem o seu familiar sozinho e conseguem fazê-lo quando vêm ao Café Memória, porque é um espaço de intervenção terapêutico e, portanto, estão a trabalhar em prol do seu familiar. E aí já se sentem autorizados e legitimados a poderem tirar algum tempo que, apesar do desenho do projeto, também é para eles", realça Zeferino Ribeiro, destacando a importância desta iniciativa junto destas pessoas que "se sentem muitas vezes abandonadas".
O Governo aprovou quinta-feira passada, em Conselho de Ministros, uma proposta de lei que estabelece as medidas de apoio ao cuidador informal, mas os detalhes só vão ser conhecidos durante a próxima semana, quando for feita a sua apresentação pública.
"Estas pessoas precisam mesmo de ser apoiadas porque a solução é essa ou a institucionalização, mais onerosa. E não podemos fazer contas de merceeiro nisto. Além de que a institucionalização deve ser evitada porque a qualidade de vida dos pacientes é muito maior se estiverem em casa", sublinha o diretor clínico da Casa de Saúde S. João de Deus.
As sessões do Café Memória Barcelos são procuradas na sua grande maioria por familiares/cuidadores, sendo a demência prevalecente o Alzheimer, verificando-se que "mais de 70 por cento" dos familiares/cuidadores são mulheres.
O lançamento do "Café Memória" em Portugal é uma iniciativa da Sonae Sierra e da Associação Alzheimer Portugal e conta desde o seu lançamento com o apoio de diversos parceiros institucionais, nomeadamente da Casa de Saúde S. João de Deus e da Câmara Municipal de Barcelos.