Da tecnologia de ponta ao isolamento. "Pai" do 1.º satélite português vive sem fibra
Há 25 anos liderou o projeto que pôs em órbita o primeiro satélite português. Mas hoje, a viver numa aldeia da Guarda, Fernando Carvalho Rodrigues vive sem ter garantido o acesso à internet.
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Fernando Carvalho Rodrigues foi o pai do primeiro satélite português, o PoSAT-1, lançado para o espaço a 25 de setembro de 1993. Durante anos, lidou com tecnologia de ponta, mas agora que se mudou de Lisboa para a terra natal, no concelho da Guarda, não é bem assim.
Em junho, por causa do mau tempo, o físico e professor catedrático esteve uma semana sem internet, num caso que só foi resolvido com prontidão depois de se ter queixado publicamente.
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Para não ficar sem acesso à rede e ao mundo, Fernando Carvalho Rodrigues teve que sair de casa alguns dias e ir até à estação de caminho-de-ferro da sede do concelho. "É uma coisa que só por desatenção é que pode acontecer, só por desatenção dos administradores e do donos dessas empresas [de telecomunicações]", afirma.
Fernando Carvalho Rodrigues considera ainda "escandaloso" que a aldeia onde vive há cinco anos, habitada por duas dezenas de pessoas, não tenha fibra, mesmo estando a 12 quilómetros da cidade da Guarda.
"Metade da população de Casal de Cinza foi morta durante as invasões francesas para que os senhores em Lisboa fossem um país independente. Quantos mais é que tinham que morrer para eles porem cá fibra?", questiona.
O ex-presidente da Assembleia Municipal da Guarda não esconde ser crítico do centralismo do país, focado na capital, reclamando outra atenção para o interior do país.
"Eu não quero incitar ninguém, mas isto começa a ficar... Vai ser preciso deitar pontes abaixo, impedir que os produtos saiam por Vilar Formoso, qualquer coisa. Se pudermos canalizar o oxigénio para outro lado canalizamos, porque tudo o que é produzido aqui vale zero, tudo o que é produzido lá, incluindo as asneiras, vale imenso", lamenta.