No primeiro dia de greve dos enfermeiros, a TSF entrou no mundo de Nuno e Ana para perceber a realidade de um casal apaixonado pela profissão, mas frustrado com a falta de perspetiva de progressão na carreira.
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Nuno Pedro é enfermeiro há 20 anos. Ana Tavares há 17. O casal conheceu-se na urgência pediátrica do Hospital das Caldas da Rainha, onde ainda hoje trabalha. Casaram e tiveram três filhas. Esta quinta-feira, ao contrário do que acontece habitualmente, estão os dois em casa, mas não por um bom motivo.
Os dois especialistas decidiram fazer greve e juntar-se às vozes que, por estes dias, exigem ao Governo uma nova proposta de revisão das carreiras.
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Depois de duas décadas dedicadas à profissão e muitas formações depois, veem-se parados no tempo e na carreira, obrigados a fazer dois turnos para conseguirem ter um rendimento razoável.
"Se eu trabalhasse de segunda a sexta, das oito às cinco da tarde, trazia para casa 800 euros, com 20 anos de profissão, com uma especialidade, com mestrado, com duas pós-graduações. A minha mulher tem um mestrado, tem uma pós-graduação, tem uma especialidade", revela Nuno.
Quando olham para trás, Nuno e Ana não se arrependem da escolha que fizeram ao abraçar a vocação, mas pedem respeito e dignidade.
"Não nos arrependemos, obviamente que não. Foi conhecimento que adquirimos e que, com todo o gosto, aplicamos diariamente às nossas crianças, mas em termos de ordenado, obviamente que sentimos que esse reconhecimento não é feito por parte do nosso país.", lamenta Ana.
Nuno e Ana prometem continuar a lutar: por eles e por aqueles que todos os dias estão dependentes dos seus cuidados.
"Eu não tenho carreira, eu não sei o que é que eu vou ser amanhã. Eu sei que fiz estudos, eu sei que já gastei muito dinheiro. Eu sei que luto por um futuro melhor para mim, mas também luto por um futuro melhor para o cidadão que necessita dos meus cuidados.", remata Nuno.
A greve dos enfermeiros foi convocada por todos os sindicatos de enfermeiros que exigem ao Governo a contagem dos anos de trabalho para efeito do descongelamento das progressões na carreira, a todos os profissionais, independentemente do vínculo.
Os profissionais reivindicam também o pagamento do suplemento remuneratório aos enfermeiros especialistas, a admissão de mais profissionais de saúde, um salário mínimo de 1600 euros mensais, a possibilidade de chegar ao topo da carreira técnica superior, suplementos para funções de especialista, a criação de categoria na área da gestão e a aposentação antes dos 66 anos.