Relatório do Conselho Nacional de Saúde aponta incongruência entre o tipo de alimentação defendido nas salas de aula e a oferta alimentar disponível nas escolas.
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As escolas não conseguem garantir que os bufetes e as cantinas para os alunos tenham uma oferta de alimentos saudáveis. Esta é uma das conclusões do relatório do Conselho Nacional de Saúde (CNS), intitulado "Gerações Mais Saudáveis", que analisa as políticas públicas de promoção da saúde das crianças e jovens em Portugal.
O relatório deixa críticas ao facto de o Estado não ter desenvolvido ainda "nenhuma ação concertada para combater a oferta de alimentos ricos em açúcar e gorduras saturadas". Sobretudo, dizem os autores do relatório, no que diz respeito à "regulação da publicidade nos meios de comunicação social". Neste capítulo sobre a obesidade, fala-se ainda da "falta de regulamento" sobre a localização de restaurantes que promovem produtos não saudáveis.
Segundo dados divulgados pelo estudo, 8% das crianças são obesas e 20% estão em situação de pré-obesidade.
Mais profissionais de saúde nas escolas
No relatório, o CNS deixa ainda críticas à forma como está a funcionar o Programa Nacional de Saúde Escolar. Os peritos entendem que é necessário haver uma maior articulação entre os intervenientes das ações levadas a cabo nas escolas.
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Isabel Loureiro, coordenadora deste relatório, alerta que deve haver um trabalho conjunto entre os profissionais de saúde e os professores para garantir que, no dia a dia, as crianças são ajudadas a distinguir os comportamentos saudáveis dos não saudáveis.
"Este trabalho em conjunto não deve ser feito só indo às escolas fazer palestras. É necessário um entrosamento e a capacitação dos professores e dos pais para entender o que é melhor para o desenvolvimento das crianças e como lidar com questões de saúde que possam resolver sem ter de recorrer às urgências dos hospitais", sublinha. Daí a importância de "investir na educação para a saúde e também no ambiente" que rodeia as crianças.
"Não se pode estar a dizer numa sala de aula que se deve comer mais frutas e vegetais e, depois, [os alunos] saírem da sala de aula e terem um bar onde só são apresentados produtos açucarados", defende Isabel Loureiro.
Educação Física está desadequada
A equipa de investigadores debruçou-se também sobre as políticas de promoção da atividade física, lembrando, por exemplo, o aumento da carga horária de educação física na escola. Mas faz notar um problema: "O enfoque da disciplina é demasiado orientado para a prática de desportos coletivos", falta "uma visão mais abrangente e contemporânea da promoção da atividade física".
Com uma chamada de atenção para os adolescentes, "faixa etária onde é mais expressiva a obesidade", os peritos alertam para o facto de os programas de promoção da atividade física se destinarem, "na maioria dos casos, não a estes, mas às crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo".