Ao longo dos mais de 500 anos de história, a Misericórdia de Lisboa tem sido a escolha de muitas pessoas para doações e benemerências, que ajudam a instituição a cumprir as causas a que se propõe. Uma das últimas doações foi a Clínica Oriental de Chelas em Lisboa, com mais de quatro décadas de trabalho na área da imagiologia e obstetrícia.
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Na Clínica Oriental de Chelas em Lisboa mal se parou durante a pandemia. A equipa atende 80 a 100 grávidas por dia, que vêm fazer consultas mas sobretudo ecografias para avaliar a saúde do bebé.
"Houve um dia que fechamos, naquele dia a seguir à declaração de estado de emergência. Davam-nos conta que as grávidas que não conseguimos desmarcar era um corrupio aqui à volta da clínica o dia todo, a baterem nos vidros, a espreitarem e isso obrigou-nos a abrir", conta José Augusto Matos Silva, gerente da clínica há quase 30 anos.
Decidiu manter as portas abertas para receber grávidas que não puderam ser atendidas nos hospitais, aumentando o fluxo de ecografias e consultas.
É um dia-a-dia a que Matos Silva está habituado. Tem 75 anos, grande parte deles passados à frente da clínica. Faz parte do capital da instituição desde 1980 e, depois de se reformar da banca, decidiu avançar para a liderança da clínica.
"Depois desses anos todos de trabalho somos hoje, sem falsas modéstias, uma clínica de referência na área da imagiologia, sobretudo a obstétrica", anuncia.
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"O que vamos fazer a isto?"
Matos Silva começou a questionar-se sobre o destino da clínica e de quem lá trabalha. "Começo a ver a luz ao fundo da ponte e eu a minha mulher perguntamos o que é que vamos fazer a isto."
Recebeu propostas de dois grupos económicos mas rejeitou. "Juntar dinheiro a dinheiro não nos valia muito a pena". Estava mais inclinado para uma instituição que pudesse dar continuidade ao projeto, e até acrescentar outras áreas de intervenção em saúde.
Lançou o desafio à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), impondo algumas exigências. Uma delas é a criação de um serviço de cuidados paliativos, uma ambição que foi alimentando depois da morte do pai.
"Cai na asneira de o ter em casa. Vi-me ali com ele com uma doença oncológica a querer recorrer a enfermeiros que não os tinha, ele cheio de dores e eu não sabia a quem acorrer. Desde desse dia, de 95 até hoje, alimentei sempre a esperança de implementar um serviço de paliativos", conta.
No contrato ficou também o requisito da criação de um centro de referência que estude as doenças da mama, a manutenção do nome da clínica e a não alteração da sede das atuais instalações.
Para Matos Silva, a doação vai permitir que a clínica acompanhe o ciclo da vida. Desde o nascimento, com o atendimento de grávidas e bebés, até ao fim da vida, com os cuidados paliativos.
Agora é Santa Casa
A escritura de doação da Clínica Oriental de Chelas à SCML foi assinada a 13 de outubro, pelo provedor Edmundo Martinho e pelo casal Matos da Silva.
José Augustos Matos Silva admite ficar mais descansado com a clínica nas mãos da Misericórdia.
"Aqui no conjunto trabalham 70 pessoas. Já viu a responsabilidade que eu tinha aqui? Tinha e tenho. Agora já não tenho, que é Santa Casa."
Uma responsabilidade que é agora da Santa Casa que prometeu tratar da clínica com empenho e determinação de forma a manter o legado dos beneméritos.