Um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra está a "desqueimar" ossos para conseguir identificar mais facilmente vítimas de atentados ou quedas de avião, situações em que o esqueleto humano fica, quase sempre, danificado pelo fogo.
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Uma investigação que se pode revelar crucial para a polícia, mas também para arqueólogos e historiadores. Em mãos, este grupo que envolve o Centro de Investigação em Antropologia da Saúde e a Unidade de ID Química-Física Molecular da Universidade de Coimbra, tem já ossadas, queimadas, provenientes do Egito e tenta agora procurar respostas para o que terá acontecido há milhares de anos.
Tudo porque, segundo dizem, os ossos também falam podem revelar-se fundamentais para a ciência forense, na identificação de vítimas ou mesmo para a arqueologia.
David Gonçalves, do Centro de Investigação em Antropologia da Saúde, explica que o problema que têm em mãos "prende-se com o facto de quando os esqueletos se encontram queimados, o que interfere com as dimensões originais do osso, podendo este aumentar ou diminuir de tamanho".
Quando se estão a examinar os ossos queimados nunca se tem a certeza da sua dimensão original, e isso significa que "aquelas informações que gostamos de extrair, como o sexo, a idade à morte ou a estatura, fiquem comprometidas e não o façamos com a mesma fiabilidade que o faríamos se os restos humanos não estivessem queimados", explica.
Mas, poderá ser melhorado com o "desqueimar" de ossos, através de radiação eletromagnética, o mesmo é dizer, através de luz, que chega por infravermelhos e lasers e que vão depois permitir comparações, como explica Luís Carvalho, da Unidade de ID Química-Física Molecular da Universidade de Coimbra: "Se conseguirmos detetar diferenças nessas constituição sub-microscópica pré e pós queima, provavelmente iremos conseguir uma correlação que nos consiga relacionar as dimensões ante e pós queima".
Técnicas fáceis de usar, pouco destrutivas e que consomem pouco tempo. A investigadora Maria Paula Marques sublinha o que se pode obter com esta investigação e o que tem sido estudado. "Em explosões ou em incêndios poderemos saber que tipo de explosivo foi usado, ou a que temperatura foram queimados os ossos. Informações importantes a nível forense, mas também em história e arqueologia".
Têm sido estudados sobretudo esqueletos relativamente recentes, com cerca de cinquenta anos. No entanto, de Itália foram enviados esqueletos com milhares de anos, provenientes de escavações arqueológicas no Egito. Sabe-se a época a que pertencem os ossos, mas "não se sabe a que temperatura foram queimados, se morreram queimados ou não. Todas estas informações adicionais ajudarão os historiadores a saber mais sobre aquele local. Já conseguimos chegar a algumas respostas."
Poderá parecer sinistro, mas para os investigadores, os ossos também falam, pois "numa amostra que existe em solos que podem conter cobres, ferros, etc. o osso absorve parte desses compostos e vai dar essa informação, quando utilizamos as nossas técnicas. Conseguimos tirar informações sobre o osso, a pessoa, e o meio onde esteve.
Uma investigação útil em vários campos, mas que se espera mais vantajosa para a polícia, sobretudo porque "um osso de um resto mortal contém muita informação acerca do que rodeia esses restos. Provavelmente, as pessoas que veem séries televisivas como o Bones já se aperceberam disso, mesmo leigos, mas quem não vê não se calhar não", admite a investigadora.