Denúncia do bastonário da Ordem dos Médicos feita após reunião com chefes de equipa demissionários da MAC. Miguel Guimarães avisa que clínicos podem "passar responsabilidades para os políticos".
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O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, avisa que a exaustão e a falta de recursos humanos podem levar os médicos a alienar responsabilidades para os políticos, deixando de assegurar, por exemplo, serviços de urgência nas unidades de saúde.
"No sábado, no Hospital Amadora-Sintra, a equipa de obstetrícia era constituída por uma especialista, por uma jovem interna do segundo ano e por uma médica de clínica geral. Como é evidente, este tipo de equipa não é suficiente para assegurar cuidados de saúde em contexto de serviço de urgência com qualidade", denunciou Miguel Guimarães, em declarações aos jornalistas, esta segunda-feira, no final do encontro com a administração e os chefes de equipa demissionários da MAC (Maternidade Alfredo da Costa), em Lisboa.
O bastonário lembra que a responsabilidade última é sempre dos médicos e que "os médicos não transferem responsabilidades para os políticos", mas "se calhar, deviam fazê-lo". "Qualquer dia, estes médicos que, por amor à camisola, por respeito pelos doentes e pelas instituições que estão a representar, continuam a fazer urgência para além dos 55 anos podem deixar de fazê-lo", asseverou.
"Está na hora de o Governo ver este problema como um todo, de resolver algumas situações imediatas e urgentes, mas ter um plano a curto, médio e até a longo prazo para que a política de recursos humanos na área da saúde seja seguida de uma forma mais correta e para que não existam hiatos como acontecem aqui na MAC em que a geração entre os 40 e os 50 anos praticamente não existe", afirmou, considerando que o problema se agravou ao longo de várias legislaturas, com vários governos.
Falta de recursos humanos, equipas exaustas, médicos a fazer urgências "por amor à camisola". Teresinha Simões, chefe de equipa de urgência da Maternidade Alfredo da Costa garantiu, em declarações aos jornalistas, no final do mesmo encontro, que a situação de falta de recursos humanos é cada vez mais grave e nem as contratações anunciadas há dias para aquela unidade de saúde podem resolver o problema.
"Três pessoas não chegam, de maneira nenhuma. No mesmo dia (em que foi feito anúncio de contratações), uma das médicas recebeu o papel da reforma e temos sete pessoas que se vão reformar nos próximos tempos. Como é óbvio, só três contratações mais as duas pessoas que virão por concurso não é suficiente", disse Teresinha Simões, no final da reunião dos chefes de equipa demissionários da Maternidade Alfredo da Costa com o bastonário da Ordem dos Médicos. A não contratação de internos formados na casa e o envelhecimento das equipas é um problema há muito conhecido e estende-se a várias unidades de saúde.
Para Miguel Guimarães, a contratação de 54 médicos para as seis unidades do centro hospitalar "não será suficiente", já que só para a Alfredo da Costa seriam precisos, de imediato, pelo menos mais dez clínicos.