Estes empreendedores já foram adversários mas agora jogam na mesma equipa
Depois de entrarem na Casa do Impacto em Lisboa, Bernardo Gonçalves e Francisco Pires de Miranda criaram um projeto conjunto em apenas um mês, apesar de inicialmente serem concorrentes.
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Bernardo Gonçalves ainda se lembra do seu momento Eureka. Era presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa e percebeu que era difícil "puxar alunos para a participação cívica nas atividades". Quando começou a trabalhar numa consultora, continuou a encontrar o mesmo desinteresse e começou a magicar uma ideia para ligar cidadãos e políticos.
Foi assim que surgiu o projeto My Polis, uma aplicação mobile e web que quer olear a comunicação entre políticos e cidadãos. "Se pensarmos por exemplo no Fernando Medina, um político hoje em dia escreve programas eleitorais para comunicar a sua agenda política mas nenhum millenial vai ler 200 páginas de absolutamente nada", explica Bernardo Gonçalves e acrescenta que o mesmo desinteresse se aplica à televisão e à imprensa escrita.
As autarquias não sabem falar com os millenials e, por essa razão, Bernardo Gonçalves defende que "é necessário os políticos arranjarem novas maneiras de chegarem às suas audiências e, por outro lado, os cidadãos precisam de uma ferramenta para se fazerem ouvir e essa ferramenta tem de ser digital".
A ideia da My Polis é que cidadãos e políticos possam apresentar propostas políticas de na aplicação de forma, sujeitando-se depois a uma votação. "Queremos criar um espaço para a cidadania digital, em que há uma discussão de ideias e em que fazemos um shift de uma discussão política muito centrada nas pessoas, no caráter, muito ad hominem, para uma discussão política mais centrada no concreto, nas ideias, no valor das ideias", explicou
Gamificação da realidade
Os millenials são o alvo claro desta aplicação e é para eles também que Francisco Pires de Miranda vem trabalhando nos últimos tempos. Começou offline através de voluntariado com alunos marcados por insucesso escolar e em risco de abandonar a escola. Do tempo passado no terreno, nasceu a ideia do SPOT Games.
"Pretendemos transformar escolas através da gamificação das aprendizagens e acreditamos que os jogos criam o ambiente ideal para aprender, em que os jovens sentem-se confiantes, estão sempre motivados, há um feedback contínuo. É o ambiente ideal e muitas vezes antagónico relativamente ao que é feito nas escolas", conta.
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Francisco Pires de Miranda recorda que as formas de aprendizagem estão a mudar e é preciso acompanhar esse ritmo. "A escola foi uma instituição muito eficaz ao longo de 200 anos em transmitir conteúdos, numa altura em que era muito difícil ter acesso aos conteúdos e à informação. Mas hoje em dia o paradigma mudou bastante", acrescenta. O fundador do SPOT Games lembra que os jovens "têm a informação que procuram na palma da mão e o modelo autoritário dos professores já não resulta".
Um dos jogos que Francisco Pires de Miranda desenvolveu chama-se SPOT Literacia no Espaço Público e foi desenvolvido para a junta de freguesia de Carnide. "É uma caderneta da freguesia com os locais de relevância e os atores que representam também esses locais. Na sala de aula, vão ganhando uma moeda virtual em que podem ir a terreno conhecer esses locais, resolver desafios", explica, acrescentando que a aplicação contribui tanto para os objetivos da junta de freguesia, como para o desenvolvimento de capacidades de matemática dos alunos de primeiro ciclo.
Encontro na Casa do Impacto
Foi com estes dois projetos que Bernardo Gonçalves e Francisco Pires de Miranda entraram para a Casa do Impacto, um novo projeto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que "pretende promover soluções inovadoras que deem resposta aos problemas sociais que a SCML lida diariamente", explica Inês Sequeira.
A diretora da Casa do Impacto considera que o caso de Bernardo e Francisco é um bom exemplo de como o espaço pode agilizar a cooperação. "No espaço de um mês conseguiram criar ainda um terceiro projeto, além dos dois que cada um deles já tinha".
Francisco e Bernardo criaram a Academia My Polis a quatro mãos, uma ferramenta digital para professores que prepara a geração Z para a participação cívica e democrática do futuro. Apesar de inicialmente estarem em competição, uma vez que se candidataram ao programa de aceleração da SCML PAES, rapidamente perceberam que defendiam posições idênticas e complementares. "Sentimos desde logo que uma grande admiração dos projetos um do outro e foi na sequência de acharmos que havia sinergias a explorar entre a My Polis e a SPOT Games que criamos a Academia My Polis", conta Bernardo Gonçalves.
O objetivo da aplicação é formar jovens para terem índices de participação cívica mais elevados a começar pela sala de aula. "Esta ferramenta explora esse momento específico da vida dos jovens em que estão numa sala de aula de cidadania para, através de um lógica de gamificação, começar a a formar jovens para que possam ser cidadão 4.0", explica Bernardo Gonçalves.
A app Academia My Polis vai ser apresentada em novembro, em parceria com o governo, por ocasião da comemoração dos 40 anos da ratificação de Portugal da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, mesmo a tempo do websummit.
A Casa do Impacto vai também aproveitar a cimeira da tecnologia para lançar novos projetos: uma chamada para startups interessadas em aceder à Casa do Impacto e a nova edição do Santa Casa Challenge.