Há certas cirurgias que quase não são feitas em certas regiões do país, sobretudo em alguns distritos do Interior ou no Algarve.
Corpo do artigo
Um estudo sobre as cirurgias da coluna realizadas entre 2011 e 2016 nos hospitais públicos conclui que há enormes diferenças regionais que levam os médicos a suspeitar que os doentes de determinadas zonas têm muito mais dificuldades em aceder aos tratamentos.
As taxas encontradas mostram que há determinados tratamentos que praticamente não são feitos à população de certas regiões e outros que são feitos em muito menor quantidade (metade, cerca de um terço ou mesmo menos de um quarto).
O presidente da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV), Manuel Tavares de Matos, admite que é muito difícil perceber os números a que chegaram: "O recurso aos hospitais privados e algumas diferenças entre as populações não explicam tudo... Como é que há diferenças tão grandes?! Não há doentes? É difícil não haver doentes...", constata.
Por exemplo, em Vila Real os tratamentos de descompressão entre as estruturas nervosas da coluna chegam aos 44 por cem mil habitantes, mas noutros cinco distritos do Interior o número desce para menos de dez. Noutro tipo de cirurgias (discectomias, artrodeses, artroplastias, fixações dinâmicas, vertebroplastias e cifoplastias) voltam a ser frequentes as grandes disparidades regionais.
Manuel Tavares de Matos destaca que os problemas da coluna são uma das principais razões para faltar ao trabalho pelo que é fundamental responder de forma correta e referenciar bem os doentes.
O estudo revela que entre 2011 e 2016 os hospitais públicos portugueses trataram 42.750 doentes, com a Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral a acrescentar que "em algumas regiões as taxas de procedimentos, francamente abaixo da média, podem explicar-se pela eventual escassez de recursos técnicos para a sua execução" e também pelas dificuldades dos médicos de família em referenciar as patologias da coluna.
Manuel Tavares de Matos acrescenta que "em algumas regiões as taxas de procedimentos, francamente abaixo da média, podem explicar-se pela eventual escassez de recursos técnicos para a sua execução e também pelas dificuldades dos colegas de Medicina Geral e Familiar em referenciar as patologias da coluna".
Nelson Carvalho, Coordenador da Secção de Coluna da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, diz ainda que as taxas de procedimentos muito acima da média registam-se particularmente junto de centros de tratamentos, o que se poderá explicar "pela proximidade geográfica aos centros, já que as cirurgias à coluna podem representar procedimentos invasivos e com período de internamento prolongados, o que pode afastar os doentes que residem mais longe dos centros tratamento".