Exame a grávida foi recusado e o feto morreu. Inspeção de Saúde aponta dedo a médicos e enfermeiros
Mulher que perdeu o filho estava grávida de oito meses. O caso aconteceu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, em agosto de 2017, e está a ser investigado pelo Ministério Público.
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Uma mulher de 20 anos, grávida de 33 semanas, dá entrada no serviço de urgência do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Tem uma infeção respiratória, alterações do fluxo urinário e o feto revela-se mais pequeno do que devia. Fica internada. São-lhe prescritos vários exames, entre eles, uma cardiotocografia (conhecida por CTG) - um exame que serve para avaliar o bem-estar do feto e que deveria ser feito uma vez por turno.
No entanto, na noite do segundo dia do internamento, nem esta jovem nem as restantes mulheres internadas no serviço de obstetrícia foram submetidas ao exame. A data coincidiu com o início de um protesto dos enfermeiros especialistas em saúde materna que reclamavam uma carreira própria.
Assim, a enfermeira especialista de serviço, ao iniciar o turno, contactou a equipa médica de urgência para saber quem iria assegurar os exames que tinham sido prescritos à mulher grávida, incluindo a CTG. O chefe de equipa explicou que não seriam os médicos porque não havia profissionais em número suficiente. Acrescentou que "eventuais responsabilidades pelo incumprimento da não realização do exame seriam da própria enfermeira". Confrontada com esta posição, a especialista decide não realizar o exame, apesar de ser a única enfermeira de serviço com capacidade para fazê-lo.
O caso é relatado pelo jornal Público , que avança as conclusões da Inspeção Geral das Atividades em Saúde: a recusa de realização do exame teve "eventuais repercussões no desenvolvimento do quadro clínico da (doente)".
Às 8h00 da manhã do dia seguinte, a mulher grávida começou a perder sangue vivo por via vaginal. Não são detetados batimentos fetais, confirma-se a morte do feto.
Uma médica perita, ouvida pela IGAS sublinha que a CTG poderia ter revelado algum sinal de alarme. A Inspeção Geral das Atividades em Saúde propôs procedimentos disciplinares aos três médicos de serviço. São suspeitos de não terem respeitado "o dever de cuidado que lhes era exigido". A enfermeira especialista não foi alvo deste procedimento porque, explica o Público, cessou o contrato com o hospital logo a seguir a este incidente.
O Ministério Público decidiu abrir um inquérito sobre o caso. A investigação está a cargo do Departamento de Investigação e Ação Penal.