Falta de ar, cansaço ou inchaço das pernas? Pode sofrer de insuficiência cardíaca
Mais de metade dos inquiridos deste estudo acreditam que a taxa de sobrevivência da insuficiência cardíaca é alta. Apenas 15% reconhece o inchaço das pernas como um dos principais sintomas desta doença, que afeta meio milhão de portugueses.
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O inquérito "Portugueses e a insuficiência cardíaca", integrado na campanha anual da Fundação Portuguesa de Cardiologia "maio, mês do coração", que envolveu 1.012 indivíduos, é esclarecedor. Apenas 51% consideram que a taxa de sobrevivência da insuficiência cardíaca é alta ou, pelo menos, não tão baixa como em casos oncológicos.
O cardiologista e presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC) Manuel Carrageta, alerta, no entanto, em entrevista à TSF, que "há estudos que comparam a mortalidade de vários cancros, como por exemplo o cancro da mama, e a mortalidade é superior em caso de doença cardíaca do que em caso de cancro de mama". E as estatísticas também falam por si: "Em 100 pessoas com cancro da mama, sobrevivem mais do que em 100 pessoas com insuficiência cardíaca, ao fim de cinco anos".
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Quanto à ameaça silenciosa que a doença representa, a maioria dos inquiridos - 89% - considera haver um perigo de vida associado. Aliás, mais de sete em cada 10 inquiridos (71%) disseram saber que se trata de uma doença cujo número de casos vai aumentar nos próximos anos.
Outros dados são de realçar: 63% afirmaram que é uma doença que afeta tanto novos como mais velhos, mas apenas 19% sabia que a taxa de sobrevivência é baixa, e 29% que a taxa é semelhante à dos cancros mais graves.
Manuel Carrageta demonstra preocupação relativamente ao grau de desconhecimento das pessoas, e quer "chamar a atenção para os sintomas desta doença". "Uma das coisas mais frequentes é uma pessoa experienciar um grande cansaço, nomeadamente a ir de casa para o café. A meio caminho, tem de parar um pouco para respirar um pouco melhor. Sente-se muito cansado, e atribui isso ao envelhecimento", denota o médico.
Muitas vezes, no entanto, esta situação é devida a uma patologia com mortalidade elevada - a insuficiência cardíaca - e saber reconhecê-la pode salvar vidas. "O tratamento é eficaz e permite melhorar muito o prognóstico desta doença, por isso o diagnóstico atempado é muito importante", explica o cardiologista. "É preciso que as pessoas estejam informadas desta possibilidade: de que o cansaço se pode dever a insuficiência cardíaca", frisa.
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O que o inquérito revela ainda é que a grande maioria (83%) acredita que, em casos de insuficiência cardíaca, ocorrem muitas mortes prematuras, porque os doentes não valorizam os sintomas da doença, que são principalmente falta de ar, cansaço fácil, edema nas pernas e perda de peso.
Esta evidência é também realçada por Carrageta, por isso o médico deixa o alerta: "Os sintomas importantes são a falta de ar, o cansaço e o inchaço das pernas".
Segundo o estudo, 72% dos inquiridos associa o cansaço fácil à insuficiência cardíaca, 69% fica atenta à possibilidade de doença pela falta de ar, mas apenas 15% reconhece o edema das pernas e 5% a perda de peso.
"Hoje em dia, as pessoas estão a ganhar juventude. Há um rejuvenescimento no processo de envelhecer. Pessoas com a mesma idade estão mais jovens do que há 50 anos." É por este motivo que muitos veem a falta de ar como um sinal de que estão a envelhecer, conforme aponta o presidente da FPC.
A moderação é, por isso, fundamental para o controlo da patologia. Os resultados do inquérito revelam que são mais os que consideram que não deve haver restrição no consumo de água (45%) do que os que entendem que deve ser bebida moderadamente. "Precisamos é de um estilo de vida saudável, de ter uma alimentação saudável - a chamada 'dieta mediterrânica' ou a comida tradicional portuguesa - com moderação", contrapõe o médico especialista.
Também é desejável, segundo o cardiologista, praticar exercício físico. "Basta andar meia hora a pé, a passo rápido, para obtermos os grandes benefícios da atividade física. As pessoas com mais idade têm de ter outro tipo de atividade, nomeadamente treinar o equilíbrio, fazer exercícios de força e elasticidade, e tentar preservar a massa muscular", aconselha Manuel Carrageta.
"Não fumar e evitar o excesso de álcool" são também prioridades para quem quer fazer face à doença.
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Esta é uma "epidemia que vai aumentar" e que já atinge 15 milhões de europeus.
O cardiologista sublinhou que o desconhecimento sobre esta doença mostra ser "necessário aumentar a literacia das pessoas em relação ao tema".
Nesse sentido, defendeu, as campanhas são "extremamente importantes" para sensibilizar a população para esta doença "ainda um pouco esquecida, subvalorizada", mas que é "uma das grandes epidemias do século pelo que deve ser considerada uma prioridade nacional".
"A insuficiência cardíaca deve ser considerada uma prioridade nacional com consultas de especialidade em articulação com o médico de família, porque é a única maneira de ter uma resposta capaz para uma patologia que está a aumentar e que mata muito", defendeu Manuel Carrageta.
É lançada esta terça-feira uma campanha que pretende passar a mensagem de que viver com insuficiência cardíaca é como estar numa prisão, porque o doente está "manietado pelos sintomas".