Perdeu a mãe aos poucos, mas esteve sempre lá. Agora conta ao Presidente da República como foi
Marcelo Rebelo de Sousa recebe esta terça-feira a Associação Nacional de Cuidadores Informais, incluído Filipe Catapirra, que passou parte da infância a cuidar da mãe com Alzheimer.
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Filho e mãe inverteram os papéis. Tinha ele pouco mais de dez anos quando se viu obrigado a passar de criança a cuidador informal.
Durante cinco anos, Filipe Catapirra, o irmão gémeo e um outro irmão mais velho, cuidaram da mãe, a quem aos 48 anos foi diagnosticada doença de Alzheimer, até à sua morte, em 2014.
Agora com 25 anos, vai contar ao Presidente da República como foi crescer lado a lado com uma doença "injusta", em defesa da aprovação do estatuto do cuidador informal.
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Começou com coisas pequenas, como "acender um cigarro ou mudar o canal de televisão". Seguiu-se a incapacidade para escolher as roupas que vestir, gerir o dinheiro, cuidar da casa, proferir frases completas. Quando as coisas pioraram foi preciso "amadurecer muito rápido", conta à TSF.
Foi difícil, conta, ver a mãe, "pouco a pouco, a perder capacidades", perder a mãe pouco a pouco.
Filipe Catapirra conta que o marcou a primeira vez que teve de dar banho à mãe quando esta apresentava um quadro agressivo. Duas crianças tinham que despir uma mulher adulta, lavá-la, corpo e cabelo, enquanto esta gritava "como se se lhe estivessem a fazer mal". A primeira vez foi marcante, depois tornou-se mais um dever que tinham de o fazer e pronto. Foi um desgaste físico, mas sobretudo psicológico.
Os três irmãos contavam com a ajuda da família materna, em especial de uma tia que também "sacrificou parte da vida dela para agarrar uma família que não conseguia sobreviver sozinha". Só assim conseguiram alguma normalidade na infância.
Chegados da escola Filipe Catapirra e os irmãos cuidavam da mãe e só com ela já na cama, de pijama vestido, jantar comido, comprimidos tomados, tinham tempo para eles. Descasavam o que podiam, mas não eram raras as vezes que acordavam a meio da noite quando a mãe sofria alucinações.
Se queriam sair com amigos os irmãos faziam turnos, mas pouco falavam do problema da mãe entre si ou com outros. "Esta doença dá-me raiva", diz.
O estatuto do cuidador informal "vem dar um pouco mais de dignidade à pessoa que está a cuidar e indiretamente influenciar a pessoa cuidada", defende Filipe Catapirra.
Marcelo Rebelo de Sousa Recebe esta terça-feira recebe a Associação Nacional de Cuidadores Informais, a cujo conselho fiscal pertence Filipe Catapirra, poucos dias da discussão do estatuto do cuidador informal no Parlamento.