Saltar em poças de água, tomar um banho de outono, ou descobrir criaturas mágicas. Tudo isto é possível na Escola da Floresta Bloom, onde as "lições" são dadas a brincar.
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O sol espreita, envergonhado, por entre as nuvens que cobrem a Quintinha de Monserrate, na serra de Sintra. Será que vai aguentar-se ou será a chuva a ganhar este "braço de ferro" em tons de cinzento amarelado?
Até nem está frio, apenas a humidade habitual na serra. O grupo para esta "aula" da manhã inclui algumas famílias - pais e mães com crianças entre os 2 e os 8 anos. Vieram para um passeio à descoberta da natureza, organizado pelo Movimento Bloom, uma associação sem fins lucrativos, de defesa do ambiente.
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Mónica Franco, uma das fundadoras, explica que o objetivo desta "escola" é recuperar a ligação entre as crianças e a natureza, através da brincadeira. Só assim se consegue uma forma de vida mais sustentável.
Neste passeio há regras a cumprir. Antes de mais, usar roupa e sapatos confortáveis e impermeáveis. Porque também é a chuva que dá "fama" à serra de Sintra. Nada que preocupe os graúdos e, muito menos, os miúdos. Para eles, se chover, melhor ainda! Adoram andar à chuva e até têm milhentas formas de descrever a que sabe a chuva. "Sabia que há chuva que sabe a morango? E a terra? Cada um tem os seus sabores....", afirma Mónica. E a chuva traz as poças de água....
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Mas voltemos às regras. "Não arrancar, para não estragar a natureza; não comer; e não lamber as mãos, porque podemos brincar com coisas que não sabemos se são perigosas".
O túnel dos segredos
Meia dúzia de passos pela quinta e está quebrada a primeira regra. Violeta, 5 anos, não resistiu a uma flor. "Arrancaste"?, pergunta Rafael Crooz, um dos três guias, de sorriso aberto.
Pronto. São crianças pequenas. Rafael mostra aos pequeninos um cesto onde se guardam estes "tesouros" da floresta. Só que... não neste caso. "Era um tesouro para a mãe!", explica Diana, a mãe de Violeta.
O passeio continua. Pelo caminho, descobrem-se couves, brócolos, ervas aromáticas, lagartas de água, caracóis, aranhas, e até um ninho de salamandras e lagartos. Mas não estava lá nenhum. Javier, três anos, prefere tapá-lo.
A caminho da floresta, há um lugar especial para pais e filhos partilharem segredos. O pai, deitado no chão, de um dos lados do túnel. O filho, de pé, do outro lado. O mais pequeno fala baixinho; o maior limita-se a ouvir. E a guardar o segredo, junto ao coração. A caminhada prossegue.
Até à "porta" da floresta, há animais para visitar. Os cavalos, as ovelhas, e os burros, Chiquinho e Jacó. Todos querem fazer-lhes festas, mas "só na cabeça, porque podem pensar que as vossas mãos são cenouras".
Unicórnios. O sonho de Javier
Antes do início do passeio, todos são convidados a dizer o que mais gostam na natureza. Há o riacho de Rafael, o mar de Mónica, ou os unicórnios de Javier. "Uaaaaauuuu!!!" Haverá criaturas mágicas na floresta? Os guias garantem que sim. É preciso acreditar. E aceitar um convite que possa surgir.
A meio do caminho, Rafael garante que ouviu qualquer coisa. "Será aquele unicórnio que vem ao sábado?". "Talvez seja o vento, Rafa,.... não?", atira Mónica. Mas Rafael está certo: "o relincho!!!!". Imita o som. "Parecia um unicórnio!!!". "Será hoje?", questiona-se Diana. "Há tanto tempo que andamos à procura!". É preciso procurar nos sonhos, como o pequenino Javier.
Poucos passos adiante, o grupo encontra fios de lã pendurados nas árvores. Verdes e vermelhos. "É o convite", garante Mónica. Um convite para "fazermos umas pulseiras mágicas. Sem elas, é impossível ver as criaturas mágicas da natureza", explica, enquanto ajuda Frederico, 7 anos, a colocar a pulseira no pulso. Afinal, a magia faz parte.
Um banho de outono
Com ou sem unicórnios, ainda cheira a verão na floresta. A primeira a notar o "cheiro estranho" é Mónica. Rafael concorda. E Magda Ferro, outra das fundadoras do Movimento Bloom, também. Cheira a mar, a conchas, a protetor solar. Os guias concluem que "estas famílias ainda estão na estação errada e precisam de um banho de outono".
Sentados no centro de uma tenda improvisada, pais e filhos fecham os olhos. Afinal, no banho, não convém que nada entre para os olhos. Por cima, caem-lhes folhas que o outono levou das árvores. Ouvem-se risos, deseja-se "feliz outono". Que comece a "estação certa".
"Isto é mesmo lama"!!!!
Terminado o passeio, o caminho de regresso é pela "estrada das poças". Fazem a alegria dos miúdos, mas também dos graúdos. Violeta é uma das primeiras a "dar o salto". Não sem antes verificar que "isto é lama! isto é mesmo lama! Yeeeaaahhh!!!". Cheia de certezas, o grande pulo cobre-lhe as galochas de água turva e abre-lhe o riso contagioso.
Magda, de galochas floridas, anuncia que vai "mandar uma bomba". O grupo aplaude. Todos riem e ensaiam palavras de incentivo. "Posso ir? Posso mesmo ir? Mesmo....?". Três, dois, um... corrida... salto... já está!!!!!
A manhã não podia terminar de melhor forma. E não choveu.
A próxima "aula" para famílias na Escola da Floresta Bloom é no dia 19 de janeiro, pelas 11h00. Pode inscrever-se aqui ou na página do Movimento Bloom