Há apenas um pediatra nas urgências do Garcia de Orta. "Chegou a altura de responsabilizar os políticos"
O bastonário da Ordem dos Médicos alerta para as condições de risco das urgências pediátricas no hospital Garcia de Orta, em Almada, onde o serviço tem funcionado com apenas um médico pediatra.
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A urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta, em Almada, está em risco de fechar durante a noite. O alerta é dado pela Ordem dos Médicos, depois de o hospital ter perdido nove pediatras, no espaço de um ano.
Ouvido pela TSF, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, avisa que não podem ser apenas os médicos a assumir a responsabilidade.
"Nunca aconteceu nenhum político ser responsabilizado por não dar as condições adequadas ao funcionamento de um serviço de urgência. Acho que começa a chegar a altura de responsabilizar os políticos", defendeu Miguel Guimarães.
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Para assegurar o funcionamento das urgências pediátricas, a lei exige dois especialistas de pediatria ou, em alternativa, um especialista em pediatra e um interno nos últimos anos de formação.
Tem sido recorrente o hospital funcionar com apenas um pediatra de serviço, o que leva o bastonário da Ordem dos Médicos a classificar a situação como urgente.
"Num hospital que tem o movimento que este tem - que recebe, por dia, cerca de 130 crianças - no serviço de urgência de pediatria (que dá também apoio às áreas de internamento e de berçário ao fim de semana), é óbvio que a existência de um único pediatra coloca em causa a segurança clínica", indica Miguel Guimarães, em declarações à TSF.
"Não quero que nenhuma criança não tenha acesso ao melhor tratamento possível quando recorre ao hospital", disse o bastonário.
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Perante o atual cenário, o bastonário da Ordem dos Médicos considera que encerrar o serviço de urgência pediátrica é a melhor solução para garantir a qualidade dos cuidados e apela a uma intervenção urgente do Ministério da Saúde para resolver a situação no Hospital Garcia de Orta.
"Se há um serviço a funcionar, que tem regras perfeitamente estabelecidas, e essas regras não são cumpridas, quem tem poder político - a começar nas administrações [dos hospitais] e indo até ao Ministério da Saúde] tem que ter responsabilidades nesta matéria".
Administração do hospital admite risco de fechar portas
"O risco existe", diz o presidente do Conselho de Administração do Hospital Garcia de Horta, reconhecendo a possibilidade de encerramento da urgência pediátrica durante o período da noite.
Em declarações à TSF, Daniel Ferro explica que, mesmo com todos os esforços que têm sido feitos, a saída dos nove pediatras pode vir a ditar o fecho do serviço, que tem funcionado com os restantes a profissionais a trabalhar "em sobrecarga".
O presidente do Conselho de Administração do hospital espera a entrada de cinco novos pediatras na instituição nos próximos meses. Mas recuperar os nove pediatras perdidos para o privado pode demorar, na melhor das hipóteses, um ano.
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"Temos previstos cerca de cinco novos especialistas, dois dos quais iniciarão funções dentro dos próximos dias. Os outros três, esperamos que se consigam com o concurso que será iniciado em abril", explicou Daniel Ferro. "Gostaríamos de repor os nove médicos a curto prazo, mas isso não é possível, atendendo ao nível de formação de especialistas que está a correr. Dentro de um ano, é possível."
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Notícia atualizada às 11h58
*com Rita Carvalho Pereira e Guilhermina Sousa