A Polícia Judiciária deteve o antigo braço-direito de Mesquita Machado. Vítor de Sousa é líder do PS local e foi candidato à presidência da autarquia nas últimas eleições. Há ainda outros quatro detidos nesta operação.
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Em causa está a compra de 40 autocarros da marca MAN. Os veículos foram adquiridos pela Transportes Urbanos de Braga (TUB), que na altura era liderada por Vítor Sousa. O ex-autarca, que foi vice-presidente de Mesquita Machado, é acusado de ter recebido perto de 800 mil euros em troca da preferência pela marca alemã.
O Jornal de Notícias (JN) conta que no total foram detidas cinco pessoas. Para além do líder do PS local, o processo implica a antiga administradora dos Transportes Urbanos de Braga. Cândida Serapicos, também dirigente local do PS, terá alegadamente recebido "luvas" na aquisição dos autocarros.
Foram ainda detidos no âmbito deste processo um diretor da empresa municipal TUB, um administrador alemão e um representante português da empresa de autocarros.
O JN revela que a investigação começou em 2011, quando foi entregue à Polícia Judiciária um dossier com cópias de cheques que terão sido entregues a Vítor Sousa entre os anos 2000 e 2008. No entanto, o valor pode ser mais elevado. Um dos arguidos, Abílio Costa, terá declarado tribunal, num outro processo, que as comissões atingiram os dois milhões de euros. Nos documentos a que a PJ teve acesso, o esquema mostrava que Vítor Sousa receberia cerca de nove mil euros por cada autocarro adquirido pela Transportes Urbanos de Braga, enquanto à ex-administradora eram entregues pouco mais de mil euros.
Abílio Costa, empresário que representava a marca alemã em Braga, pagava as comissões aos decisores, que depois eram descontadas da compra dos veículos. O JN garante que os investigadores têm em mãos várias cópias de cheques que provam estes pagamentos, sendo que os dois beneficiários negam as suspeitas e dizem tratar-se de empréstimos.
O Jornal de Notícias acrescenta, ainda, que o esquema envolve a aquisição de automóveis, combustíveis e venda de sucata.
A Polícia Judiciária remeteu para sexta-feira esclarecimentos sobre este caso.
Primeiras denúncias surgiram há mais de três anos
Em julho de 2012, quando surgiram notícias sobre as suspeitas de corrupção neste processo, Vítor de Sousa e Cândida Serapicos alegaram, em comunicado, que se tratavam de "calúnias". Além de refutarem as acusações, ambos manifestaram disponibilidade e "interesse" em prestar declarações ao Ministério Público.
A denúncia do suposto caso de corrupção terá chegado de forma anónima ao Ministério Público, tendo, entretanto, sido realizadas buscas às instalações dos Transportes Urbanos de Braga (TUB).
No comunicado de julho de 2012, ambos os visados apontavam motivações políticas para as referidas notícias, relacionadas com o momento que se vivia no PS/Braga. Vítor de Sousa tinha vencido pouco tempo antes a Concelhia do PS, derrotando o deputado António Braga, e era apontado como o provável sucessor de Mesquita Machado como número um da lista socialista à Câmara Municipal de Braga.
No mesmo comunicado, os agora detidos atestavam ainda que "sempre colocaram na gestão da causa e da coisa públicas" valores como "integridade e cumprimento rigoroso". Valores estes que, afirmavam, iriam atestar "a inveracidade" das notícias. Vítor de Sousa e Cândida Serapicos adiantavam que já tinham requerido e manifestado ao Ministério Público "o maior interesse em prestarem declarações e esclarecimentos" que se mostrassem necessários "para o apuramento de toda a verdade".
Notícia atualizada às 7:00 de 5 de fevereiro de 2016