Resposta da administração a que a TSF teve acesso revela cenário grave que atrasa cirurgias programadas e até urgentes.
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A administração do Hospital Garcia de Orta - o maior do distrito de Setúbal, para onde são enviados os casos mais graves da Margem Sul - pediu medidas de "exceção" ao Governo para evitar a rotura, "a curtíssimo prazo", das cirurgias, nomeadamente na urgência.
O alerta está numa resposta enviada a 19 de setembro pelos responsáveis do hospital localizado em Almada ao Tribunal de Contas, no processo sobre as falhas nas listas de espera do Serviço Nacional de Saúde.
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O documento consultado pela TSF conta que, no início do ano, foi feito um plano para diminuir as listas de espera, mas a sua implementação está a ser "difícil sem a resolução das insuficiências de recursos humanos" comunicadas várias vezes ao Ministério da Saúde.
Rotura à vista
A procura por cirurgias não tem parado de aumentar, mas a administração explica que o hospital "regista uma descapitalização de anestesistas desde 2014 devido à aposentação e mobilidade de grande número para hospitais em parceria público-privada, impedindo a adequada satisfação de elevado volume de necessidades que tem afetado principalmente a atividade cirúrgica programada mas também a urgência, impondo-se atualmente a tomada de medidas de exceção sob pena de rotura a curtíssimo prazo na prestação de cuidados neste serviço".
Pouco mais de um mês depois desta resposta ao Tribunal de Contas (TC), fonte oficial do hospital garante à TSF que "as medidas propostas para resolver a situação estão a ser tomadas pela tutela" e "muito em breve começarão a ser executadas".
Resposta só cobre 43% das necessidades
O problema é que, como salienta a resposta consultada pela TSF, as medidas são urgentes: "A capacidade instalada do serviço de anestesiologia só cobre 43% das necessidades", afetando cirurgias urgentes e programadas.
A administração acrescenta que "não se consegue contratar ninguém devido, também, em parte, à sobrecarga e degradação das condições de trabalho". Dos 23 anestesistas que existiam em 2011, o hospital "contará a partir de outubro com apenas 14 médicos, dos quais dois aposentados e com perspetivas de cessação a todo o tempo". Nos "outros 12, prevê-se a cessação de mais um e só três passarão a ser elegíveis para o serviço de urgência. Dos outros oito, seis podem deixar a escala a qualquer momento e cessar ou diminuir as urgências".
O hospital chegou as ter duas vagas a concurso que ficaram desertas, o que "não é animador para um hospital que no espaço de três meses perdeu cinco anestesistas, incluindo o diretor de serviço, ameaçando a missão e a gestão clínica do Garcia de Orta".
Segurança clínica em causa
Em setembro, as equipas estiveram, em seis dias, reduzidas a dois elementos, sendo que a previsão para outubro era para o problema se agravar.
Em relação às consequências, "o nível de insegurança clínica aumentará ou terá que se encerrar a urgência de obstetrícia", com a administração a sublinhar que, "como urgência polivalente e hospital de fim de linha dos hospitais da península de Setúbal, esta decisão implicará a transferência de grande número de parturientes para Lisboa".
O hospital admite mesmo que "na atividade urgente confirma-se que a elevada percentagem de doentes operados fora do tempo, quer na ortopedia quer na oftalmologia" está sobretudo relacionada com o número "anormalmente reduzido" de anestesistas: 30% dos doentes de oftalmologia são operados fora do tempo adequado e na ortopedia e traumatologia a escala devia ter quatro, mas não dá "sequer para três" médicos.
Se tudo continuar como está, em 2020 serão cerca de 11 mil os doentes operados mais tarde do que deviam no maior hospital do distrito de Setúbal.
Uma delegação da Ordem dos Médicos e dos sindicatos reúne-se esta terça-feira com administração do Garcia de Orta. O objetivo é esclarecer um conjunto de problemas que se estarão a agudizar no hospital.
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