Autoridades de saúde alertam para vendas sem receita médica. Se nada mudar, resistência aos antibióticos poderá matar mais do que os acidentes na estrada ou o cancro.
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Apenas um em cada três portugueses sabe que os antibióticos não matam vírus. O número é apresentado pela Direcção-Geral da Saúde para mostrar como ainda somos dos países europeus onde há mais desconhecimento sobre um tipo de medicamentos que por serem demasiado usados são cada vez menos eficazes.
A falha de informação não seria grave se todos os antibióticos fossem de facto vendidos apenas com receita médica, mas o problema, como defende a diretora do Programa de Prevenção e Controlo das Infeções e da Resistência aos Antimicrobianos, é que nem sempre isso acontece.
À TSF, Maria do Rosário Rodrigues sublinha que "a venda com receita médica é o que está na lei... mas às vezes sabemos que aquilo que está na lei não é a regra".
Depois, sublinha a especialista, "há farmácias de ambulatório que cedem o antibiótico porque conhecem o doente. Sabemos que há fugas a estas regras e isso é que determina muito do mau uso de antibióticos".
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Recorde-se que várias projeções preveem que, se nada mudar, dentro de algumas décadas a resistência aos antibióticos pode matar mais no mundo que os acidentes de viação ou o cancro. As contas do programa nacional de prevenção sublinham que se a resistência não for controlada em 2050 poderão morrer 10 milhões de pessoas por ano, sendo que hoje já são 25 mil só na Europa devido a bactérias multirresistentes.
Nem febres, nem constipações
Sem antibióticos eficazes, os medicamentos para tratar os doentes são cada vez menos, com a diretora do programa a sublinhar que ao contrário do que muitos portugueses pensam "os antibióticos são medicamentos destinados ao tratamento de infeções causadas por bactérias, não atuando sobre infeções causadas por vírus, como é o caso das constipações e gripe", nem febres nem dores musculares.
A DGS sublinha que apesar das melhorias, Portugal continua a ser dos países europeus onde mais se usam antibióticos e onde menos conhecimentos se tem sobre a sua utilização.
No entanto, o último inquérito europeu sobre o assunto revela mesmo que apenas 30% dos portugueses sabem que os antibióticos não matam vírus, um dos números mais baixos da União Europeia. Pelo contrário, 61% afirma (mal) que sim e 9% que não sabem.
Outro número preocupante para a Direção-Geral de Saúde: 52% acreditam que os antibióticos tratam gripes e constipações, muito acima da média europeia, contra apenas 38% que sabem que isso não é verdade.
Maria do Rosário Rodrigues sublinha que com tanta falta de informação é normal que os médicos se sintam pressionados a passar antibióticos por tudo e por nada, sentindo-se mais seguros se o fizerem, mesmo que não seja preciso.
Recorde-se que o problema provocado pelo excesso de antibióticos é que quando tomamos um medicamento deste tipo as bactérias existentes no nosso corpo que são sensíveis ao antibiótico morrem, mas ao multiplicarem-se algumas sofrem mutações que as tornam resistentes a esse mesmo antibiótico, gerando as temidas bactérias multirresistentes.