Representante dos juízes critica falta de reserva de Neto de Moura e "oportunismo" de Rui Rio
O representante da Associação Sindical dos Juízes Portugueses considera que Neto de Moura não devia ter divulgado a lista de nomes que pretende processar e acusa Rui Rio de aproveitar o caso polémico para servir uma agenda.
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O presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses criticou a falta de reserva do juiz Neto de Moura que divulgou publicamente que iria processar quem o ofendeu nos últimos dias. Manuel Ramos Soares defendeu, no Fórum TSF, que o magistrado aumentou a dimensão do problema ao tornar esta lista pública.
"Eu preferia que o juiz Neto de Moura, tendo tomado a decisão - que é legítima - de acionar as pessoas que entendeu acionar que o fizesse de uma forma reservada. Só as pessoas que vierem a ser visadas nos processos é que têm que saber disso e elas, depois, se quisessem podiam dizer. Agora, como é evidente, nós quando acrescentamos problemas em cima de problemas estamos a aumentar-lhe a dimensão."
Manuel Ramos Soares sublinhou que existe, de facto, "uma crise de confiança na justiça", mas lembrou que "ela é injustificada na medida em que nós não podemos confundir uma decisão de um juiz, dois juízes ou três juízes com os juízes todos".
O magistrado acusou Rui Rio de aproveitar esta oportunidade para servir a sua agenda.
"Percebo a afirmação um bocadinho oportunista do presidente do Partido Social Democrata que tem uma visão para a Justiça muito diferente daquela que o Conselho da Europa e que os países europeus defendem. Eu já reuni com o presidente do PSD e sei bem o que ele pensa sobre a Justiça e sobre a liberdade de imprensa, porque ele não se coíbe de o afirmar. Portanto, é legítimo que o PSD tenha um líder que tem essa conceção, mas ele deve ser claro. Não pode é a pretexto de um caso querer-se encavalitar num problema para levar avante um projeto que, talvez, em condições normais não seja do agrado dos portugueses"
No mesmo plano, Manuel Ramos Soares defendeu que "a liberdade crítica é absolutamente legítima e saudável, mas não podemos embarcar num comboio que se destina a um abismo e, às tantas, quando damos por isso estamos todos não sabemos bem onde."
*Com Manuel Acácio