Mais tempo com os pacientes. Médicos querem, pelo menos, meia hora para cada consulta
A Ordem dos Médicos quer acabar com a sobreposição de horários na marcação, e duplicar ou triplicar o tempo padrão de cada consulta. A proposta, a que a TSF teve acesso, entra em discussão pública esta segunda-feira, quando se assinala o Dia Mundial do Doente.
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A Ordem dos Médicos afirma que a sobreposição de horários na marcação de consultas é frequente, viola os direitos dos doentes e prejudica a qualidade dos serviços. A questão não é nova, foi uma das bandeiras de campanha do bastonário Miguel Guimarães, mas, até ao fim do ano, a Ordem quer acabar com o problema.
Ouvido pela TSF, Miguel Guimarães considera "uma situação anormal por parte do Estado, neste caso por parte do Ministério da Saúde, permitir que nos centros de saúde e nos hospitais se marquem várias consultas à mesma hora."
O bastonário quer que todas as unidades de saúde públicas, privadas e do setor social, passem a cumprir tempos padrão de forma a humanizar os serviços e a melhorar a relação de confiança médico/doente. Como? Definindo um tempo médio de duração para as consultas de cada especialidade que garanta um intervalo suficiente entre as marcações.
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"Temos que, definitivamente na área da saúde, deixar de estar presos às chamadas métricas numéricas e temos de introduzir métricas de qualidade, para que as pessoas sintam que estão a fazer medicina com qualidade e que os doentes sintam que têm à sua frente um médico que tem tempo para lhes explicar as coisas e não estar apenas exclusivamente a olhar para o computador", explica o bastonário.
Na proposta da Ordem dos Médicos, a que a TSF teve acesso, há casos em que o tempo padrão recomendado mais do que duplica o atual tempo de duração das consultas. Uma consulta de medicina geral, que hoje dia demora em média 15 minutos, por exemplo, tem um tempo padrão recomendado de 30 a 45 minutos.
Miguel Guimarães nota que, para as marcações terem um intervalo maior, os hospitais poderão precisar de mais médicos para manter o mesmo nível de consultas, ou ter mais consultas abertas, e os centros de saúde poderão ter de reduzir o número de utentes nas listas.
O projeto da Ordem dos Médicos entra em discussão pública esta segunda-feira e está ainda sujeito a alterações nos tempos padrão. O documento vai ser analisado no Conselho Nacional, a 14 de fevereiro, remetido à Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos e a versão final será enviada ao Ministério da Saúde antes de ser publicada em Diário da República.
Médicos de família aplaudem proposta da Ordem dos Médicos
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Familiar e Geral, Rui Nogueira, apoia a proposta da Ordem dos Médicos para aumentar o tempo padrão de cada consulta. Mas Rui Nogueira sublinha que é necessário redimensionar a lista de doentes.
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"É uma posição correta e absolutamente necessária. Já andamos a estudar este problema e propusemos ao Ministério da Saúde o redimensionamento da lista de utentes, para termos mais tempo de consulta temos que ter menos doentes, sob pena de ficarem sem consulta. Temos listas com doentes a mais e há variáveis que determinam a maior ou menor complexidade e a duração da consulta depende dessa complexidade. Se tivermos doentes idosos ou muitos domicílios podemos ter que demorar mais tempo", explica.
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Familiar e Geral avisa que "é perigoso fazer consultas sob pressão" e "ter doentes que sucedem a um ritmo incrível".
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Rui Nogueira sublinha que o sistema informático não veio ajudar, porque acaba por ser "um intruso", que dificulta alguns elementos e "retira tempo" de consulta que poderia ser usado com os doentes.
Notícia atualizada às 10h27, com declarações do presidente da Associação Portuguesa de Medicina Familiar e Geral