O registo dos patrocínios da indústria farmacêutica é obrigatório e público. No entanto, muitos dos beneficiados não declaram o que receberam. Médicos lamentam "estupidez" da "dupla declaração".
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Estão a aumentar os patrocínios da indústria farmacêutica aos profissionais de saúde, sobretudo aos médicos. Só no primeiro semestre deste ano, esses patrocínios ultrapassam os 35 milhões de euros - mais 2 milhões que o registado no primeiro semestre de 2015.
O registo de quem financia e de quem recebe é obrigatório e pode ser consultado por qualquer pessoa no Portal da Transparência, na Internet, mas segundo o Instituto da Farmácia e do Medicamento (INFARMED), continua a haver grande discrepância entre os valores declarados.
Quadro 1: Beneficiados por patrocínios
Quadro 2: Patrocinadores
Este ano foram atribuídos mais de 36 milhões em patrocínios. No entanto, do lado de quem recebe (sobretudo médicos mas também enfermeiros, farmacêuticos e entidades de saúde) há apenas registo da entrada de 11 milhões. Quer isto dizer que alguém recebeu 25 milhões e não os declarou como deveria.
Ordem dos Médicos fala em "estupidez" burocrática
José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos, desvaloriza a discrepância entre os valores declarados. O médico admite que a diferença de valores encontrados nas tabelas se deva ao "esquecimento" e sublinha a "estupidez" de uma "dupla declaração".
O bastonário garante que no portal tudo está "transparente". Os patrocinadores têm que declarar a quem é que entregaram os patrocínios e as ajudas de custo. Para José Manuel Silva é tudo tão claro, que não há razão alguma para que médicos e outras entidades tenham, também eles, de entregar uma "dupla declaração" a admitir que receberam tudo aquilo que os patrocinadores indicaram.
Nota: notícia corrigida às 15h10.