Menos consultas, menos cirurgias... e o défice triplicou nos hospitais do centro de Lisboa
Centro hospitalar no centro de várias polémicas fechou o ano com as contas no vermelho, menos dinheiro transferido pelo Estado, mas também menos consultas e mais listas de espera.
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O Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, que reúne cinco hospitais e a Maternidade Alfredo da Costa, fechou 2018 com um défice de 89,8 milhões de euros, mais do triplo que em 2017.
Este centro hospitalar esteve no ano passado no meio de várias polémicas e é dos primeiros a divulgar publicamente as contas, com resultados que pioraram muito.
O relatório provisório, consultado pela TSF, está cheio de números explicitamente escritos a vermelho para assinalar que ficaram abaixo dos objetivos definidos no início do ano e abaixo dos números de 2017.
Os doentes internados desceram 4,7%, menos 6 mil que o objetivo. O número de consultas também ficou a 57 mil da meta anual, tendência igual ao verificado nas cirurgias (6 mil abaixo do objetivo).
A lista de inscritos para cirurgia aumentou 14,3% (+1.899 doentes), "registando-se um agravamento da média do tempo de espera em 15,9% (+31 dias) e a deterioração da taxa de resolução cirúrgica, em meses, de 15,9% (+1 mês)", com o relatório a sublinhar as várias greves que afetaram os hospitais em 2018.
Um dos raros números que ficou acima da meta e próximo dos resultados de 2017 foi os atendimentos nas urgências (+0,3%).
Um buraco financeiro
Os números a vermelho voltam a surgir em destaque no quadro da demonstração financeira de resultados. Os resultados líquidos, ou seja o défice (a diferença entre receitas e despesas), cresceu mais de 200%: 26,3 milhões negativos no final de 2017 para 89,8 milhões de euros negativos no final de 2018.
O relatório afirma que "regista-se um agravamento da situação económico-financeira" do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. Um agravamento ligado, em grande parte, à quebra de 38 milhões nas receitas vindas do Estado, menos 9,8% que no ano anterior e menos 3,1% que o planeado.
Por outro lado, os gastos subiram mais do que o previsto, com destaque para as despesas com pessoal que cresceram 8,3 milhões de euros.
Apesar de terem contratado médicos, enfermeiros, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica e assistentes operacionais, os hospitais da zona central de Lisboa foram afetados pela passagem de 40 para 35 horas de trabalho por semana, tendo aumentado, em paralelo, os gastos com horas extraordinárias.
Troca na administração
Recorde-se que a administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central foi substituída recentemente pelo Governo, tendo sido nomeada uma ex-secretária de Estado, Rosa Zorrinho, para presidente do conselho de administração.
A TSF tentou obter um comentário a este relatório junto do atual e anterior conselho de administração, mas ninguém se mostrou disponível para falar.
O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central reúne os hospitais Curry Cabral, Dona Estefânia, Santa Marta, Capuchos, São José e Maternidade Alfredo da Costa.
Não é caso único
O Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares diz que os resultados financeiros do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central "são um pouco extrapoláveis para as restantes instituições do Serviço Nacional de Saúde e reflexo da política orçamental do Ministério das Finanças".
Alexandre Lourenço diz que mais uma vez os orçamentos foram feitos "muito abaixo" dos custos operacionais, aumentando, em paralelo, os gastos, nomeadamente os custos com pessoal com reposição de salários e redução do horário de trabalho de 40 para 35 horas, fazendo disparar, em todo o país, as horas extraordinárias.
O representante dos administradores hospitalares admite que o agravamento das contas deste centro hospitalar não é caso único no país, "ajudando a perceber as consequências da gestão orçamental perpetrada pelo Ministério das Finanças junto do Ministério da Saúde".
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Do lado sindical, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos diz que a situação neste centro hospitalar é má, mas certamente não é situação única, criticando as cativações e a obsessão com o défice pelo atual Governo.
Jorge Roque da Cunha sublinha que os hospitais da zona central de Lisboa até produziram menos em 2018, mas mesmo assim tiveram um péssimo resultado financeiro, exigindo ao Governo que faça "orçamentos de verdade" para a saúde.