O antigo Chefe de Estado-Maior do Exército cita divergências sobre Lei de Programação Militar, "solidariedade" para com Azeredo Lopes e a entrada do novo ministro com "nova equipa na Defesa".
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Rovisco Duarte garantiu que "nunca sofreu pressões políticas" e garantiu que a sua demissão do cargo "nada teve a ver com Tancos", mas sim com a Lei de Programação Militar (LPM), da qual discordou "em parte" e sobre a qual deu um parecer "parcialmente negativo".
"Foi fundamentalmente um problema de equipas. O ministro anterior (Azeredo Lopes) tinha saído, eu tinha sentido o apoio dele, um pouco por solidariedade também", disse na comissão parlamentar de inquérito ao caso de Tancos.
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O antigo Chefe de Estado-maior do Exército (CEME) respondia ao deputado do PSD Carlos Peixoto, que o questionou sobre se a demissão esteve relacionada com o caso do furto de material militar dos paióis de Tancos, divulgado em 29 de junho de 2017.
"Eu entendo que nada teve a ver com o caso de Tancos", respondeu Rovisco Duarte que, na carta em que apresentou ao Presidente da República o seu pedido de demissão, tinha invocado "razões pessoais", embora aos militares do Exército tenha justificado a demissão afirmando que "circunstâncias políticas" assim o exigiram.
Questionado sobre as críticas ouvidas na Comissão de comandantes exonerados, Rovisco Duarte justificou a decisão porque sentiu "necessidade de provocar choque e acabar a cultura de deixar fazer".
"É preciso uma ordem do CEME para mudarem uma lâmpada?" questionou referindo que "falta de limpeza, falta de desmatação" são situações "facilmente resolúveis pelos comandantes".
"Se os tenentes generais não tivessem saído, nada disto tinha acontecido", disse adiante, numa referência à passagem à reserva dos comandantes das Forças Terrestres, Faria Meneses, e de Pessoal, Antunes Calçada, por discordarem da exoneração de cinco comandantes de unidades responsáveis pela segurança dos paióis, dias após o furto, em julho de 2017.
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Rovisco Duarte relatou ainda que, durante meses, foi alvo de pressões para "dizer quem seria o vice-CEME" no futuro" e afirmou que "não é por acaso que havia uma postura critica relativamente à tutela por parte destes dois tenentes-generais."
Acareação à vista
Depois de ouvir Rovisco Duarte negar ter sido alvo de "pressões", o PSD propôs uma acareação entre o antigo CEME e um tenente-general que relatou uma conversa em que Rovisco lhe disse ter sido pressionado para exonerar cinco comandantes.
Adiante, na audição, e sem referir Faria Meneses, Rovisco Duarte disse achar bem que se faça uma acareação.
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O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
Instando a clarificar quais as "circunstâncias políticas" a que fez referência na carta de despedida ao Exército, Rovisco Duarte reiterou que "havia mudança de equipa" e achou que "o Exército estaria melhor se viesse outra equipa"
"Foi timing pessoal", respondeu quando questionado sobre o curto espaço de tempo ocorrido entre a demissão do anterior ministro da Defesa e a sua própria demissão.
Embora não concorde com a afirmação do general Carlos Jerónimo de que o furto "só aconteceu porque o pilha galinhas já estava no galinheiro ", Rovisco Duarte admite que possa ter havido "conivência interna".
O antigo CEME considera que, por agora, está aferida a responsabilidade do exército mas admite que o processo possa ser reaberto se vierem a ser conhecidos novos dados.
A comissão parlamentar de inquérito tinha como prazo para a conclusão dos trabalhos o mês de maio mas deverá prolongar as investigações até ao verão.