Estudo mostra como é que mulheres com cancro da mama podem ser ajudadas a superar psicologicamente a doença.
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"Às vezes estas mulheres chegavam a mim e diziam que estavam contentes por terem tido cancro...". O relato é de Catarina Ramos, investigadora, psicóloga, que ganhou o Prémio ISPA 2018 do Instituto Superior de Psicologia Aplicada por um estudo que desenvolveu e implementou uma nova intervenção psicoterapêutica em 205 mulheres com cancro da mama não-metastático.
O trabalho mostra a importância do apoio psicológico hospitalar a quem tem um tumor através de uma intervenção de grupo em que as mulheres partilham as suas experiências com a orientação de uma psicóloga em sessões semanais.
A investigadora adianta que o trabalho prova que são precisas intervenções que levem os doentes a perceberem não apenas as coisas negativas de ter cancro, mas também as positivas que podem também estar bastante presentes no dia-a-dia das mulheres que superaram um tumor.
Catarina Ramos explica que nos encontros que teve ouviu, com frequência, relatos de aspetos positivos de ter tido a doença e dá dois exemplos:
"O cancro ensinou-me que realmente é assim mesmo, que o ser humano é um ser fantástico. Podemos tudo, aguentamos tudo, temos uma coragem que não sabemos que a temos, até ao momento em que somos postos em confronto com a doença e somos capazes de levantar a cabeça e ir em frente, lutar e vencer!" - Fátima, 57 anos
"Sinto que não sou a mesma mulher. Sinto que mudei. Vejo-me mais crescida, mais madura e olho para a vida de outra maneira (...) Não dou importância a coisas pequenas, porque acho que não devemos perder tempo com elas. Tento aproveitar a vida ao máximo, porque não sei o tempo que me resta." - Paula, 41 anos
São relatos como os anteriores que, segundo o estudo, quando partilhados em grupo com outras mulheres, ajudam quem vive a doença a perceber que não é tudo mau, potenciando, pela sua partilha, mais felicidade, bem estar e qualidade de vida, "numa perceção de crescimento individual após a doença oncológica".
"É difícil dizer isto..."
Catarina Ramos explica que muitas mulheres que ouvia lhe diziam que não conseguiam partilhar as coisas positivas da doença com mais ninguém pois é "difícil dizer isto... que se está contente por ter tido cancro".
A psicóloga acrescenta que estas ex-doentes sentiam muitas vezes que o cancro foi o momento de viragem que lhes permitiu viverem hoje melhor, com mais qualidade de vida, pensando mais em si e, mesmo que não seja propriamente contentes, perceberem que "agora estão melhor do que estavam antes".
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"Mais do que uma superação do cancro, ocorre uma transformação psicológica e social na vida de uma sobrevivente que pode ser potenciada por intervenções como esta", conclui Catarina Ramos, destacando que "há mudanças positivas nas mulheres depois de terem tido cancro da mama e após uma intervenção psicoterapêutica" que deve ser desenvolvida nos hospitais.