A Organização Mundial da Saúde e outros grupos criticam esta atitude comercial, mas os resultados estão à vista.
Corpo do artigo
Na maioria dos países, a lista de espera por um órgão é um caminho sem fim e milhares de pessoas acabam por morrer todos os anos. No caso dos rins, há quem prescinda da lista de espera e integre na sua rotina a hemodiálise como um tratamento para a vida inteira.
No Irão, o sistema é bem diferente. Não há um programa de doação de rins, mas sim de compra, algo que é legal, embora com custos elevados. Esta prática, segundo o governo, levou à quase eliminação da lista de espera por um rim no país, em contraste com o que acontece no ocidente, onde milhares de pessoas morrem todos os anos à espera de um órgão.
A Organização Mundial da Saúde, bem como outros grupos, criticam esta atitude comercial do Irão em relação aos rins, com a justificação de que prejudica os pobres, que não podem pagar por um órgão. Mas nem todos estão contra o sistema adotado pelo Irão, e há médicos que defendem que alguns aspetos deste programa iraniano devem ser incorporados no ocidente, numa altura em que o mercado negro continua a ter muita força em alguns países.
"Alguns doadores têm motivações financeiras. Não podemos dizer que não têm. Se assim não fosse, simplesmente doavam um rim", explicou Hashem Ghasemi, coordenador da Associação de Diálise e Transplantes do Irão, à Associated Press. "Mas há também algumas pessoas caridosas".
Ao contrário dos outros órgãos, os rins são especiais. As pessoas nascem com dois, mas a maioria consegue ter uma vida saudável com apenas um. Embora o tipo de sangue tenha de ser compatível entre quem dá e recebe o rim, um transplante entre pessoas sem qualquer relação de parentesco tem tanto sucesso como um entre indivíduos da mesma família. Outro fator importante, e que aumenta em muito o sucesso do transplante, é a pessoa que doa o rim estar viva.
Os transplantes de rins começaram no Irão em 1967, mas o processo abrandou após a Revolução Islâmica, em 1979. O país passou a deixar muitos pacientes viajarem para outros países para serem operados, mas os custos eram muito elevados. Surgiu então, em 1988, o programa que ainda hoje vigora.
Quem precisa de um rim entra numa lista da Associação de Diálise e Transplantes, que faz a correspondência com um doador adulto saudável. O governo paga pela cirurgia e o doador recebe cuidados médicos durante pelo menos um ano e tem os valores do seguro de saúde revistos em baixa durante um longo período de tempo.
Esta associação não recebe qualquer compensação, embora ajuda a negociar o valor que o doador recebe, geralmente em torno dos 4.000 euros, impedindo ao mesmo tempo a entrada do mercado negro na equação. A associação também define que pessoas precisam da ajuda monetária de organizações para ter acesso a um rim.
Todos os anos, 1.480 pessoas recebem transplantes de rins no Irão de doadores vivos, cerca de 55% do total de 2.700 transplantes que se realizam. Apenas 8 a 10% das pessoas que se candidatam a comprar um rim são rejeitadas, devido a preocupações médicas. A esperança média de vida para quem recebe um novo rim é de sete a 10 anos.
Nos Estados Unidos, apenas um terço das doações de rins vêm de pessoas vivas. Neste país, um rim de uma pessoa morta dura em média 10 anos, ao passo que se o órgão vier de alguém vivo aguenta cerca de 15 anos, segundo o Dr. David Klassen, da Rede Unida para a Partilha de Órgãos.