O Chefe Luís Lavrador, ou o cozinheiro como prefere, é agora também Doutor. Defendeu a tese de doutoramento na Universidade de Coimbra, e tornou-se no primeiro cozinheiro a obter este grau académico.
Corpo do artigo
A dar aulas há 27 anos na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, onde falou com a TSF, o Chefe Luís Lavrador é também agora professor na primeira licenciatura do país em Gastronomia, na Escola Superior de Educação de Coimbra, com 24 alunos, que são 24 potenciais críticos gastronómicos.
O primeiro "Doutor Cozinheiro" concluiu o doutoramento em Turismo, Lazer e Cultura, e a gastronomia foi o prato principal da investigação. "Continuo a ser a mesma pessoa. A ser cozinheiro e a fazer aquilo que adoro fazer que é cozinhar. O título só me veio a dar ainda mais responsabilidade do que aquela que já tinha". E já teve muitas responsabilidades. Foi chefe de cozinha da seleção nacional de futebol, esteve cinco anos à frente das cantinas da Universidade de Coimbra e dá aulas na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra há quase 30 anos.
Foi a primeira vez também que um cozinheiro concluiu um doutoramento. Luís Lavrador explica o que o levou a abraçar o desafio. "Por uma questão de dignificação da profissão de cozinheiro. Há 40 anos que ouço falar nisso".
Já muito foi feito nesse sentido mas, ainda falta fazer muito pela profissão. E por isso quis dar o exemplo aos mais jovens. Quanto ao tema da tese, foi na Bíblia que encontrou a inspiração, que haveria de guiar os quatro anos de pesquisa. "Trazer para os nossos dias a gastronomia antiga e ligada ao texto bíblico", afirma.
E para juntar todos os ingredientes necessários para concluir a tese, quantas vezes, Chefe Luís Lavrador, foi preciso ler a Bíblia? "Posso dizer-lhe que li partes da Bíblia centenas de vezes. É um repositório enorme de civilizações que antecederam o texto bíblico, mas também pelos Impérios grego e romano".
A Bíblia recorre à linguagem alimentar para passar a sua mensagem. Luís Lavrador lembra algumas passagens: "O próprio Cristo se sentou à mesa com as pessoas, alimentou as pessoas, e depois de ter ressuscitado cozinhou para os apóstolos", conta.
Cozinha-se para quem se gosta, diz o Chefe Doutor, e cozinha-se, muitas vezes, para críticos gastronómicos que, até hoje, poderiam resultar de várias experiências e com formação em várias áreas, mas que a partir de agora podem ser formados em Gastronomia, no primeiro curso superior da área, onde o Chefe Luís Lavrador é professor. "É um curso muito interessante, porque vem colmatar uma lacuna que existe em Portugal. É uma área do sabor pouco explorada e em boa hora três escolas abraçaram esse projeto".
Um projeto que pretende responder às exigências do mercado. "A gastronomia está na moda e tem a necessidade de pessoas formadas para tornarem a gastronomia num produto mais apetecível para as pessoas que nos visitam".
A licenciatura em Gastronomia tem 24 alunos, futuros críticos gastronómicos, ou profissionais da hotelaria e turismo com novos argumentos no mercado de trabalho.