Um pacto entre o assaltante de Tancos e a PJ Militar pode ter estado na origem do caso misterioso que surpreendeu o país. Os oito detidos são ouvidos esta quarta-feira no primeiro interrogatório judicial. O caso está longe de encerrado.
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O suspeito do furto das armas é um civil, homem na casa dos 45 anos, ex-militar, embora nunca tenha pertencido aos quadros das Forças Armadas e já referenciado pela polícia como traficante de droga e de armas. Perante a repercussão pública do furto, e sem conseguir vender o material de Tancos, o suspeito terá ficado assustado e contactado um antigo companheiro de armas, militar da Guarda Nacional Republicana (GNR), para devolver o armamento de forma discreta.
Este militar terá falado com o chefe, que, por sua vez, terá entrando em contacto com elementos da Polícia Judiciária Militar, interessada em encontrar as armas e assim fazer boa figura com a descoberta do material.
O plano terá tomado forma e, na noite de 18 de outubro, o piquete da Policia Judiciária Militar de Lisboa recebeu uma alegada chamada anónima a alertar para o aparecimento das armas e restante material na Chamusca.
Por estranha coincidência, uma equipa constituída por guardas de Loulé e inspetores da Polícia Judiciária Militar do Porto encontrava-se no Parque das Nações, em Lisboa, a trabalhar numa outra investigação. Acabaram por ser enviados pelo piquete para a Chamusca, onde fizeram a descoberta.
A Polícia Judiciária e o Ministério Público estão convencidos de que este telefonema nunca aconteceu e que a presença destes militares em Lisboa não foi uma coincidência, de acordo com os detalhes da investigação divulgados esta quarta-feira pela imprensa.
Ao todo, foram emitidos oito mandados de detenção: além do alegado autor do roubo de armas do paiol de Tancos, foram detidos também três militares do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé e quatro militares da Polícia Judiciária Militar, incluindo o diretor, o coronel Luís Vieira.
Neste jogo de polícias e ladrões, o Correio da Manhã acrescenta que a Polícia Judiciária Militar tinha mesmo conhecimento de que estava a ser preparado um assalto à base de Tancos, mas nada fez para impedir o roubo das armas.
As detenções não devem, contudo, ficar por aqui. O major que liderava a investigação da Polícia Judiciária Militar também foi alvo de buscas, mas como está a cumprir missão das Nações Unidas na República Centro-Africana, só deve ser detido quando chegar a Portugal, nos próximos dias.