O que leva uma mãe a colocar a vida em risco para proteger os filhos
Uma investigador do centro de neurociências da Fundação Chapalimaud ligou a ação de uma hormona à decisão de arriscar a vida, pelos filhos, em vez de preservar a própria vida.
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A oxitocina, conhecida como a "hormona no amor", leva as mães a colocar a vida em risco para protegerem os filhos. A conclusão é de um estudo da Fundação Champalimaud divulgado esta terça-feira.
O estudo, realizado por uma equipa liderada por neurocientistas do Centro Champalimaud, pretendeu perceber o que se passa no cérebro dos pais para estarem sempre dispostos a sacrificar a vida para proteger os filhos.
O objetivo foi "tentar perceber o mecanismo" deste "fenómeno que se observa na natureza em várias espécies", uma vez que a reação imediata a uma ameaça costuma ser fugir ou ficar quieto para tentar passar despercebido, explica Marta Moita, a investigadora que liderou o projeto.
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A investigação realizada com ratos fêmeas que tiveram crias recentemente veio dar uma nova pista ao estudar o comportamento de defesa da mãe, tanto na presença como na ausência dos filhos, e testar se o mecanismo de ação da oxitocina na amígdala é necessário para a regulação desse comportamento.
As experiências consistiram em condicionar as mães, sem as crias, e associar um cheiro a mentol a um choque elétrico. Após esta aprendizagem, os animais percebiam o cheiro como uma ameaça e ficavam quietos.
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Com o estudo ficou demonstrado que "as mães quando estão em presença das crias suprimem o 'freezing' [resposta de ficar quieto] e, que em vez disso, têm outros comportamentos como tentar tapar a fonte do odor que utilizámos, que era a ameaça, tentavam esconder os filhos por baixo do material do ninho, exploravam a caixa provavelmente para localizar a ameaça ou amamentavam e mantinham as crias próximas de si", explica a investigadora
Contudo, quando os cientistas bloquearam a atividade da oxitocina na amígdala das mães, estas, independentemente da idade das crias, passaram a ficar quietas perante o perigo, esquecendo-se do seu "dever" de proteção maternal.
Segundo a investigadora, o estudo fornece um quadro experimental "para estudar quais são os sinais que as crias transmitem à mãe e que levam, em caso de perigo, à libertação de oxitocina" na amígdala da mãe, desencadeando a estratégia de defesa da descendência.
Os resultados desta investigação foram publicados na revista eLife. Marta Moita admite que há ainda muito por conhecer nesta área. Por exemplo, o estudo só abrangeu as mães dos ratinhos. Fica por saber, qual o comportamento dos pais.
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