O banqueiro luso-angolano Carlos José da Silva negou, em julgamento, ter oferecido emprego ao ex-procurador Orlando Figueira para ir trabalhar para o BPA Angola, contrariando declarações do arguido.
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Carlos Silva, que começou a ser ouvido esta segunda-feira como testemunha no julgamento da Operação Fizz, foi apontado por Orlando Figueira como o responsável pelo seu contrato de trabalho, nunca cumprido, para ir trabalhar para Angola como assessor jurídico do Banco Privado Atlântico.
A testemunha começou por explicar que conheceu Orlando Figueira quando se deslocou ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) para depor como testemunha num processo e confirmou que uns dias depois foram almoçar a um hotel.
Contudo, desmentiu o arguido Orlando Figueira, dizendo que "nunca falaram de trabalho", nem na hipótese de o ex-procurador ir trabalhar para o BPA.
"Não falámos de coisíssima nenhuma de trabalho, nem de ir para Angola. Ninguém trocou de telemóveis nem mails", disse a testemunha, que garantiu também que não conheceu Orlando Figueira em Angola, ao contrário do que o arguido disse.
O banqueiro, interrogado pela procuradora, referiu que nunca mais se encontrou com Orlando Figueira, nem falou com o advogado Proença de Carvalho.
Contudo, contou que o advogado e arguido Paulo Blanco lhe telefonou a perguntar se "havia algum desafio" para Orlando Figueira no BPA e que a forma que encontrou para resolver a questão "foi sugerir que falasse com Paulo Marques", fundador e acionista do BPA, que já morreu.
"A minha intervenção ficou por aí", acrescentou.
De seguida, confrontado com vários emails enviados para si pelo advogado e também arguido Paulo Blanco, Carlos Silva disse que não os tinha recebido, escudando-se no facto de ser atarefado, de ter quatro caixas de emails e de ter uma assistente que gere a sua correspondência.
"Desconheço, não li, não chegou", foi assim que reagiu quando confrontado um email de Paulo Blanco sobre a minuta de um contrato de trabalho de Orlando Figueira com a Finicapital, uma empresa parceira do BPA. Disse também que não conheceu qualquer representante da empresa Portmill.
A Operação Fizz assenta na acusação de que o ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, corrompeu Orlando Figueira, com o pagamento de 760 mil euros, para que este arquivasse dois inquéritos, um deles o caso da empresa Portmill, relacionado com a aquisição de um imóvel de luxo no Estoril em 2008.
Após a separação da matéria criminal que envolve Vicente, que foi também presidente da Sonangol, o processo tem como arguidos Orlando Figueira, o empresário Armindo Pires e Paulo Blanco.
O ex-procurador do DCIAP está pronunciado por corrupção passiva, branqueamento de capitais, violação de segredo de justiça e falsificação de documentos, o advogado Paulo Blanco por corrupção ativa em coautoria, branqueamento também em coautoria, violação de segredo de justiça e falsificação de documento em coautoria.