No Dia Mundial de Luta Contra a Sida a TSF foi conhecer o único hospital público de Medicina Reprodutiva que acompanha casais em que um ou os dois têm o vírus da Sida (VIH). Em 4 anos acompanhou mais de 200 famílias, ajudou a nascer dezenas de crianças e alguns casais já vão no segundo filho saudável.
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Sofia Figueiredo é ginecologista e Sónia Correia é embriologista. Ambas trabalham no Centro de Medicina Reprodutiva da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) e concordam que o caso mais marcante que acompanharam nos últimos 4 anos talvez tenha sido o de um casal em que os dois têm VIH-2 e em que ele não tinha espermatozoides durante a ejaculação. Um triplo desafio para quem tem como trabalho ajudar os casais a terem filhos.
Este centro de procriação medicamente assistida é o único no Serviço Nacional de Saúde que acompanha casais não apenas com VIH, mas também com hepatites B ou C. Os casos vêm de todo o Continente ou ilhas e são encaminhados para a MAC pelos infecciologistas que acompanham os doentes.
Ao contrário do que acontecia nos anos 80 em que um diagnóstico de vírus da Sida parecia uma pena de morte, hoje os médicos dizem que um doente com VIH, se estiver bem controlado, tem uma probabilidade de vida igual à de quem não tem a doença. Razões que levam Sofia Figueiredo a dizer que faz todo o sentido que possam ter filhos.
Nos últimos 4 anos, este centro da MAC recebeu mais de 200 casais em que pelo menos um dos membros tinham VIH. Os resultados por vezes demoram meses ou anos, mas já há registos de dezenas de crianças nascidas e todas elas saudáveis.
A ginecologista Sofia Figueiredo explica que a medicina permite que estes casais possam, conforme o caso clínico, seguir dois caminhos, e um passa pela fertilização em laboratório através da procriação medicamente assistida depois de, por exemplo, o esperma ser lavado em laboratório e aprovado pelo Instituto Nacional de Saúde que garanta que está mesmo livre do vírus da Sida.
Contudo, existem várias situações em que é mais fácil avançar para as relações sexuais sem proteção, desde que o casal não tenha problemas de fertilidade e faça uma profilaxia (com comprimidos) que garanta que o vírus não passa para o parceiro. Existem sempre riscos mínimos, mas Sofia Figueiredo conta que já acompanhou, com sucesso, vários casos deste tipo e que são por norma mais rápidos que a procriação medicamente assistida que tem uma lista de espera que ronda os 10 meses.
Quanto à história do casal em que os dois são seropositivos e ele é infértil, a conceção natural não foi possível, mas também acabou bem e com resultados a dobrar: a mulher está por estes dias com uma gravidez de gémeos.