Muitos países europeus estão a separar os alunos imigrantes ao encaminhá-los para escolas diferentes ou com percursos educativos mais lentos, aumentando as suas desvantagens educacionais, alerta a UNESCO.
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No Dia Internacional dos Direitos da Criança, o Relatório de Monitorização da Educação Global (GEM, na sigla em inglês) 2019, lançado esta terça-feira, em Berlim pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), refere que dois terços dos imigrantes estão nos países mais desenvolvidos, representando 18% dos estudantes, contra 15% em meados da década de 2000.
Entretanto, estes estão espalhados de forma desigual entre as escolas: 15% dos alunos que tinham histórico migratório estavam em 52% das escolas secundárias.
O relatório GEM 2019 mostra, por exemplo, que, em Berlim, uma em cinco escolas primárias matricula duas vezes mais estudantes com histórico migratório do que os que vivem na sua área de captação.
Em 2017, em Itália, 17% das salas de aula da primária tinham mais de 30% da primeira geração de estudantes nascidos no estrangeiro.
Na França, o ensino secundário em áreas desfavorecidas tem cinco vezes mais filhos de imigrantes que não são da União Europeia (UE) do que filhos de pais franceses ou da UE.
Na Holanda, algumas escolas agora têm 80% de estudantes imigrantes. Já no Reino Unidos, falantes não nativos eram mais propensos a frequentar a escola com falantes nativos desfavorecidos.
"Separar ou segregar imigrantes em diferentes escolas ou nos percursos escolares agrava os seus desafios educacionais e exacerba os preconceitos, criando uma reação 'eles' e 'nós' nos países de acolhimento", disse Manos Antoninis, diretor do relatório GEM.
Muitos países não separam por escolas, mas segregam aqueles que tem um aproveitamento baixo ao direcioná-los para percursos educativos menos exigentes.
A seleção de habilidades leva à desigualdade e a uma associação mais forte entre o 'background social' e os resultados dos alunos.
Isso já acontece em crianças de 10 anos na Áustria e na Alemanha. Tal acompanhamento na transição para os ciclos posteriores prejudica particularmente os estudantes do sexo masculino com origem imigrante.
Na Alemanha, os alunos com origem imigrante têm sete pontos percentuais a mais do que seus pares nativos para receberem uma recomendação para um percurso educacional mais lento e sete pontos percentuais menos propensos a receber uma recomendação para um percurso educacional superior, mesmo depois de terem controlados os resultados dos testes de leitura e matemática.
Os imigrantes são, portanto, frequentemente desviados para a formação profissional: cinco vezes mais estudantes de ascendência marroquina frequentavam formação profissional na Holanda, por exemplo, em comparação aos holandeses.
Enquanto a formação profissional pode motivar os alunos desfavorecidos a adotar caminhos mais académicos, isso pode comprometer as oportunidades subsequentes para alunos com 'background' imigrante.
O potencial dos imigrantes também está a ser desperdiçado porque as suas habilidades não estão a ser reconhecidas: mais de um terço dos imigrantes com educação superior nos países mais ricos são muito qualificados para os seus empregos, comparativamente a um quarto dos nativos.
"Se quisermos ajudar migrantes e refugiados a sentirem-se incluídos e não desperdiçarem os seus talentos, os países devem parar de subestimar as suas necessidades e as suas aspirações e começar a refleti-las em políticas educacionais", disse Antoninis.
A UNESCO indica no documento, entre outros, que os Governos não devem tratar os estudantes imigrantes de maneira diferente, separando-os em diferentes percursos educacionais, diferentes escolas ou em diferentes salas de aula, além dos professores precisarem de um melhor apoio para lidar com a educação de migrantes e refugiados.