O sável e a lampreia estão em risco de extinção nos rios portugueses. A moda das piscinas fluviais no interior do país está a colocar em perigo a vida e procriação dos peixes fluviais.
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Esta denúncia parte de duas Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA) no "Dia Internacional de Ação Pelos Rios", que hoje se celebra em todo o mundo.
Para o Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens (FAPAS) e para a associação ZERO, os açudes sem utilidade e a construção de piscinas nos rios portugueses são obras que deveriam ser revertidas para que estes troços retomem o curso selvagem das águas.
Estas obras de renaturalização são consideradas "baratas" pelos ambientalistas. Para Paulo Lucas da associação ZERO é utilizada "muita mão-de-obra local e técnicas de engenharia natural com materiais locais. Os dados apontam, para cada 100 metros de rio, para valores na ordem dos cinco ou 10 mil euros, o que são custos relativamente baixos se comparados com outras obras".
De acordo com Paulo Lucas "nem todas as secções de rio devem (ou precisam) ser intervencionadas". Assim, "quando sabemos que os açudes não são úteis devem ser pura e simplesmente removidos. Se forem essenciais à atividade humana, como a produção de energia devem ser ponderadas medidas como, por exemplo, as passagens para peixes".
A Ribeira do Vascão e os rios Alfusqueiro e Nabão são exemplos de cursos de água que, de acordo com os ambientalistas, poderiam ser "alvo imediato de investimentos de pequena monta, tendo em vista o restabelecimento da continuidade fluvial". Estes rios estão hoje repletos de obstáculos à livre circulação das espécies.
"O rio Alfusqueiro, que desagua no rio Águeda, tem 10 açudes num troço de 14 km de extensão, com 7 a impediram a passagem de peixes e muitos sem qualquer função ou utilidade; a Ribeira do Vascão, que é afluente do Guadiana, tem 32 obstáculos, 2 estão obsoletos e mais de metade têm impacte significativo no que toca à passagem de espécies muito ameaçadas, como o Saramugo; e, o rio Nabão, afluente do rio Zêzere, tem 16 açudes e mais de uma dezena poderia ser removida de imediato", lê-se no comunicado da ZERO e do FAPAS.
Por outro lado, os ecologistas põem também em causa a nova moda das câmaras do interior do país em construírem piscinas fluviais. "Espelhos de água que são muito bonitos e agradáveis mas que têm impactos muito significativos. Houve uma onde de instalação de açudes insufláveis que afetaram significativamente a migração das espécies fluviais", denuncia Paulo Lucas.
Os ambientalistas não querem acabar com estas piscinas mas torná-las sazonais. "O problema é que elas estão com a água todo o ano e durante os períodos de migração, que não coincidem com os períodos em que as pessoas estão nessas praias fluviais, as espécies não conseguem migrar para montante e isso gera impactos significativos nesses rios".
Paulo Lucas da associação ZERO que em conjunto com o FAPAS denuncia a existência de obstáculos para os peixes fluviais poderem desovar, os ambientalistas conhecem algumas situações concretas mas pedem ao governo que faça "um cadastro nacional".
Ou seja, exigem que "o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas avance desde já com um Cadastro Nacional de Continuidade Fluvial, informação que, a ser obtida, permitirá delinear uma estratégia nacional de reabilitação fluvial, avaliar os impactos cumulativos de futuros eventuais novos projetos e aproveitar eficazmente o novo quadro comunitário de apoio em curso", concluem.
O "Dia Internacional de Ação Pelos Rios" nasceu há 19 anos, no Brasil, depois de uma reunião internacional de ONGAs contra as barragens.