Portugueses na guerra. A história de uma mulher-polícia em missão no Sudão do Sul
Madalena Rodrigues está há seis meses num campo de deslocados, na cidade de Juba. Sem eletricidade nem saneamento básico, eis o dia-a-dia de um agente português em missão no Sudão do Sul.
Corpo do artigo
O mais jovem país do mundo, que se tornou independente em 2011, vive há mais de cinco anos num conflito interno. A guerra atirou grande parte da população do Sudão do Sul para a fome e obrigou 4 milhões de sudaneses a deixar as casas onde viviam. Mais de 2 milhões estão refugiados em países vizinhos.
No início de junho, um contingente de oito polícias portugueses juntou-se à missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Sudão do Sul.
A portuguesa Madalena Rodrigues é chefe da Polícia de Segurança Pública (PSP) e a adjunta do comandante de contingente desta missão.
TSF\audio\2018\11\noticias\19\joana_carvalho_reis_janela_sudao_do_sul
Madalena está há quase seis meses num dos campos que acolhe deslocados em Juba, a capital do Sudão do Sul. À TSF, conta que o primeiro impacto no país não foi fácil. "Não há saneamento básico, não há eletricidade. É difícil. Vemos crianças descalças, sem roupa...", explica.
Nos campos de deslocados, a missão das Nações Unidas, da qual faz parte a PSP, garante a segurança de quem procura proteção no próprio país.
Esta é a primeira missão de paz que Madalena Rodrigues cumpre, o que considera um privilégio. Sente que está a fazer a diferença. "Eles levam imagem de um polícia que esteve ali para ajudar, que não era austero, rude. A nós, enche-nos o coração", diz.
Assume que nunca sentiu medo, mas admite que os cuidados são redobrados. "Não podemos viajar sozinhos. Temos sempre, no mínimo, dois polícias no veículo, com as portas trancadas. Temos de ter sempre uma mochila pronta com o passaporte, dinheiro, água, um estojo de primeiros socorros - temos de estar preparados para aguentar, pelo menos, 24 horas", explica.
Um acordo de paz, assinado em agosto deste ano, veio aumentar a esperança num futuro para o Sudão do Sul. Vai levar tempo, mas a chefe da PSP considera que há sinais positivos. "Temos de ter essa esperança. As pessoas querem viver em paz, querem ter acesso à educação e a melhores condições básicas."
A missão da PSP no Sudão do Sul termina em junho de 2019. Até lá, os agentes portugueses irão ainda dar formação aos polícias sudaneses.
A PSP participa em Operações de Apoio à Paz e de Gestão Civil de Crises desde março de 1992, na ex-Jugoslávia. Foi a primeira Força de Segurança Portuguesa a participar em operações de apoio à paz da ONU.
Atualmente, a polícia portuguesa conta com 37 agentes em operações de paz da ONU e missões de gestão de crises da União Europeia.