Operação foi realizada numa doente oncológica, a quem há seis anos lhe foi diagnosticado um cancro.
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Pela primeira vez foi transplantado um ovário criopreservado a uma doente oncológica. O transplante foi efetuado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra a uma mulher de 34 anos, a quem foi retirado o ovário quando tinha 28 anos e lhe foi diagnosticado um cancro.
Qualquer centro do país faz criopreservação de óvulos, mas só os hospitais de Coimbra estão preparados para retirar o ovário a uma doente com cancro e possibilitar-lhe, seis anos depois, que possa tentar engravidar.
O primeiro transplante é um caso de sucesso e foi realizado em outubro.
A doente tem 34 anos e foi-lhe diagnosticado um linfoma aos 28 anos. Foi transplantada em Coimbra, nos Hospitais da Universidade, com um ovário seu, criopreservado há seis anos.
"Transplantámos tecido ovárico para o ovário que estava dentro da senhora e atrofiado com a quimioterapia e colocámos também tecido ovárico do outro lado, no local onde tinha existido o ovário, no local onde retirámos por cirurgia há seis anos. A doente tem valores hormonais de função ovárica preservada e vamos agora esperar algum tempo para tentar a gravidez que tanto deseja", Ana Teresa Almeida Santos, diretora do serviço de medicina de reprodução, explica o processo.
Há mais 37 doentes com tecido ovárico preservado e se esta doente chegar a engravidar será o primeiro bebé nascido em Portugal através desta técnica. No mundo já existem 60 crianças nascidas após restituição do ovário.
Uma técnica que pode ser implementada "quando é urgente começar a quimioterapia, ou em crianças antes da puberdade, onde não há outra alternativa disponível, ou mesmo em jovens entre a puberdade e a maioridade, que por vezes preferem uma técnica em que não têm que vir ao hospital de forma repetida e com uma pequena cirurgia ficam com o ovário criopreservado e podem prosseguir o seu tratamento oncológico", acrescenta.
Restaurar a fertilidade é o objetivo principal, mas pode servir apenas para reverter o estado de menopausa da doente, após terminar a quimioterapia. Mas, há casos em que não dá: "nas mulheres com leucemias não fazemos, porque normalmente estão muito debilitadas e normalmente a cirurgia tem riscos que podem não ser superiores aos potenciais benefícios e tem de ser normalmente até aos 38 anos".
A taxa de sucesso de crianças nascidas é igual à da reprodução medicamente assistida, ou seja 30%, mais 5% do que as gravidezes que surgem de forma natural.
A Dinamarca é o maio centro de referência para esta técnica. Em 2010 já tinham 500 doentes com ovários criopreservados. O primeiro bebé que nasceu pela implementação desta técnica é belga, nasceu em Bruxelas em 2004.
O centro de transplantação dos HUC está preparado para receber doentes oncológicas de qualquer ponto do país, esperando ter capacidade de resposta para 50 doentes.