O audiologista João Ferrão deixa alguns conselhos para prevenir os problemas auditivos que podem influenciar os ciclos de aprendizagem. Aos adultos pede-se que estejam atentos aos primeiros sinais de alarme, em particular durante a infância e no início da adolescência.
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Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 466 milhões de pessoas tenham deficiências auditivas incapacitantes, entre elas 34 milhões de crianças. Os números foram divulgados no inicio do ano pela Organização Mundial de Saúde, que estima ainda que, até 2050, mais de 900 milhões de pessoas possam vir a ter problemas auditivos.
João Ferrão, audiologista e responsável pela formação e desenvolvimento dos Centros Auditivos Widex, defende que, para evitar que os números sejam mais preocupantes, é preciso prevenir e estar atento aos primeiros sinais de alarme.
Em entrevista ao TSF Pais e Filhos, o audiologista chama a atenção para a importância de fazer rastreios auditivos desde os primeiros anos de vida.
"Temos uma triagem logo à nascença que é o rastreio neonatal, é muito importante que as crianças o façam", refere João Ferrão, que explica que esse primeiro rastreio é fundamental para detetar perdas de audição congénitas.
Segundo o audiologista, 2% da população pode nascer com perda auditiva congénita, mas, se o problema for triado à nascença, o acompanhamento pode ser muito melhor - até porque existem, atualmente, soluções para quase todas as perdas de audição.
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A que sinais devem os pais estar atentos?
Se as crianças começarem a pôr o som da televisão mais alto, se estiverem muito desatentas ou se não responderem quando são interpeladas deve fazer-se um despiste auditivo.
"Para além das perdas de audição congénitas há as perdas de audição adquiridas, há várias patologias que podem provocar isso, como o sarampo ou a rubéola", explica João Ferrão. Entre os 3 e os 7 anos, há também muitos casos de otites do ouvido médio que passam despercebidas e podem ter impacto na audição.
"As otites do ouvido médio, que geralmente são perdas ligeiras ou moderadas, são reversíveis, com o devido tratamento. A criança fica com uma audição normal", assegura o audiologista, que alerta para os perigos de não realizar o tratamento. "Há estudos que revelam que uma criança com uma perda ligeira ou moderada pode comprometer a sua aprendizagem em cerca de 50%."
Quando deve ser feito o rastreio?
"No Reino Unido, é obrigatório as crianças fazerem um rastreio auditivo. Se falharem o rastreio neonatal, a própria segurança social encarrega-se de acompanhar a criança e obrigar os pais a dar o acompanhamento devido. Em Portugal, o ónus está todo nos pais", repara João Ferrão.
O audiologista defende que, além do rastreio neonatal, deveria ser feito um rastreio pré-escolar. João Ferrão sublinha que, quando entram na escola, as crianças deviam ter todas as mesmas oportunidades, " todas as ferramentas de que necessitam para uma boa aprendizagem".
Quais os cuidados ter com os ouvidos?
"A constante exposição ao ruído" deve preocupar os pais. "Hoje em dia, estamos a expostos a cada vez mais ruído, até através dos brinquedos", alerta João Ferrão.
O audiologista indica que é muito importante, por exemplo, "respeitar as indicações de controlo de volume que os telemóveis nos dão". "Conseguimos ouvir oito horas de música seguidas sem danos significativos na audição", exemplifica o audiologista. "Não é perigoso ouvir música com headphones desde que se respeitem as devidas indicações de segurança, que, hoje em dia, quase todos os dispositivos têm."