Enquanto Lisboa e Porto se autoalimentam de alunos, o mesmo não se passa com Coimbra, que tem de captá-los fora da cidade e da região.
Corpo do artigo
A quebra demográfica dos próximos anos prevista para o centro do país, a rondar os 25%, será o maior desafio do próximo reitor da Universidade de Coimbra. O atual reitor termina agora o segundo mandato e entrega o cargo a 1 de março ao reitor que será eleito a 11 de fevereiro.
Um ponto de encontro da lusofonia
João Gabriel Silva, que em março deixa o cargo de reitor para voltar a dar aulas, acredita que o futuro da instituição irá passar pelo acolhimento de alunos de outros países lusófonos.
"A dominância dos países anglo-saxónicos está em decrescendo e não em expansão, e, no mundo multilíngua, a língua portuguesa tem um papel a desempenhar". E aqui é notória a responsabilidade da universidade portuguesa mais procurada por estrangeiros, a maioria deles estudantes brasileiros.
"Somos claramente a universidade portuguesa com mais capacidade de atração de estudantes estrangeiros, sem qualquer programa bonificado que facilite a chegada. Somos o ponto de encontro entre vários mundos e o mundo falante português, mas também entre a ciência que se faz na Europa e no mundo, o que se torna interessante para muitos brasileiros", diz o reitor.
TSF\audio\2019\01\noticias\07\miguel_midoes_rep_balanco_reitor_da_uc
Quebra demográfica ameaça número de alunos
Esta vinda em massa de brasileiros para Coimbra é apelidada por João Gabriel Silva de uma "invasão bem-vinda", até para o aumento da natalidade. "É sabido que a natalidade, em Portugal, está pelas ruas da amargura - e sobretudo nesta região de Coimbra, que está com indicadores de interior puro".
Este decréscimo populacional é encarado pelo atual reitor da Universidade de Coimbra como o principal desafio do seu sucessor. "Sabemos, com 18 anos de antecedência, quantas crianças nasceram, e nos próximos 12 anos, vai haver um acréscimo na ordem dos 25%. Com a emigração, sabemos que pode chegar aos 30%".
Mais dinheiro e professores
O atual reitor da UC refere ainda quais foram as principais lições que tirou enquanto reitor e sublinha o facto de ter enfrentado retrações orçamentais significativas, de governo em governo, como aquilo que foi mais desafiante.
Internamente, João Gabriel Silva e a equipa de reitoria criaram estratégias para lidar com os cortes nas verbas da universidade de Coimbra. O foco foi angariar receita. O reitor, que encontrou uma poupança de 10 milhões de euros quando assumiu o cargo, deixa a universidade com 60 milhões.
A Universidade de Coimbra lançou 400 concursos para professores nos últimos dois anos, renovando um corpo docente antigo. Algo sem precedentes, nos sete séculos da universidade mais antiga do país. Também por esta razão, o reitor João Gabriel Silva considera injusto que se olhe para a Universidade de Coimbra como se esta estivesse parada no passado e debaixo da alçada da história que tem.