Na mesma semana em que recebeu um prémio europeu, Unidade de AVC de um dos maiores hospitais do país teve de encontrar uma solução de recurso com o anunciado fim dos radiologistas à noite.
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A última semana teve uma boa e uma má notícia para a Unidade de AVC do Hospital de São José, em Lisboa. Por um lado, recebeu um prémio europeu de excelência pelos bons indicadores no encaminhamento que faz dos doentes na chamada Via Verde para tratar rapidamente quem tem um acidente vascular cerebral. Por outro, foi anunciado que o hospital vai deixar de ter radiologistas e neurorradiologistas à noite.
A coordenadora da Unidade de AVC conta à TSF que foi com alegria que receberam o prémio no congresso europeu da especialidade, mas foi com tristeza que ouviram a notícia do fim dos radiologistas e neurorradiologistas à noite que os obrigou a encontrar uma solução de recurso: "Os colegas de neuroradiologia disponibilizarem-se para lerem em casa os exames dos nossos doentes da Via Verde do AVC, pelo que não teremos de recorrer às prestações de serviços de empresas que vão ser utilizadas na telerradiologia".
Ana Paiva Nunes destaca que esta solução é, contudo, uma exceção, não beneficiando todos os outros doentes do hospital, num trabalho voluntário dos médicos pago como se fosse uma prevenção, ou seja, metade do preço hora de um médico, numa situação que considera uma "vergonha".
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Ana Paiva Nunes admite que não é a solução ideal, mas é, sem dúvida, "um alívio" terem encontrado esta solução que é bem melhor que ter um neurorradiologista à distância através de uma empresa privada.
"Se tivéssemos de recorrer à telerradiologia, aí sim, a qualidade dos cuidados prestados aos doentes da Unidade de AVC seria muito prejudicada", detalha, acrescentando que faz toda a diferença ter o médico e o neurorradiologista lado a lado com a informação clínica imediata e a ver o doente de perto.
Aplaudindo a disponibilidade dos colegas para ajudarem a partir de casa e irem ao hospital nos casos em que for preciso, Ana Paiva Nunes explica que não concebe não ter um neurorradiologista do hospital, que pode ser responsabilizado, a discutir o exame consigo: "Se é para fazer mal eu não faço, nem os neurorradiologistas de intervenção nem os médicos da unidade cerebrovascular estavam dispostos a tratar pior os doentes, pelo que tivemos de encontrar esta solução... só para estes doentes [da Via Verde do AVC] pois os outros não têm este benefício", conclui.
Quando foi noticiado o fim dos radiologistas à noite, substituídos, a partir de junho, pela telemedicina, a administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central (onde se insere o Hospital de São José) garantiu que esta era "uma boa prática de recursos humanos" e que os doentes não seriam prejudicados.