"Se há um incêndio aquilo é gasolina." Regeneração do eucalipto assusta populações
O eucalipto conseguiu regenerar, ao contrário de outras espécies, e até deu origem a novas plantas que nasceram às centenas em locais onde não as havia. As novas árvores, em alguns locais, já atingem mais de um metro de altura, causando receio às vítimas dos fogos.
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Medo é o sentimento que as vítimas dos incêndios florestais do ano passado sentem perante a expansão descontrolada dos eucaliptos, que depois da passagem do fogo "rebentaram em força".
A espécie conseguiu regenerar, ao contrário de outras, e até deu origem a novas plantas que nasceram às centenas em locais onde não as havia. Estas novas árvores, em alguns locais, já atingem mais de um metro de altura, causando receio às vítimas dos fogos.
"Nasceram em triplicado, agora é uma praga. Se há um incêndio aquilo é gasolina", alerta Clementina Silva, habitante no concelho de Santa Comba Dão.
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Glicínia Semedo acrescenta que "nunca" viu "tanta rama e aquilo tudo a rebentar".
Antenor Cordeiro confirma à TSF que "nasceu muito mais [eucalipto] do que havia". "Tenho andado a arrancar tudo. Já arranquei milhares deles, mas ainda tenho mais para arrancar", afirma, sublinhando que é preciso tomar medidas caso contrário dentro de um ano o cenário nas florestas vai ser bem pior.
Hélder Viana, professor na Escola Superior Agrária de Viseu, aponta como uma das soluções para o problema o arranque mecânico das espécies que agora nasceram nas zonas ardidas, salientando, todavia, que esta operação não é "comportável para a maior parte dos proprietários" devido aos custos elevados.
"Sem dinheiro, sem recursos financeiros e uma perspetiva na obtenção de recursos, ninguém vai investir neste tipo de limpeza neste momento", sustenta.
Joaquim Silva, docente ma Escola Superior Agrária de Coimbra, concorda com a ideia e atendendo aos gastos considera que o poder central terá que subsidiar o arranque das plantas, caso contrário "o que vai acontecer é que estes novos ecossistemas vão evoluir ao sabor da natureza".
O presidente da QUERCUS fala num "barril de pólvora" e defende que o governo deve atacar já esta invasão de eucaliptos nas áreas ardidas. João Branco entende que as celuloses também devem suportar os gastos com a operação de arranque desta espécie.
"As indústrias dos eucaliptos ganham dinheiro com a venda do papel que vem do eucalipto, mas depois quem tem que pagar estes problemas são os contribuintes", lamenta.
Na opinião do ambientalista, é também preciso mudar o tipo de floresta nacional, apostando na plantação de espécies como carvalhos, pinheiros, sobreiros, entre outras.
Se nada disto foi feito, avisa João Branco, nos próximos anos podem ocorrer no país incêndios com efeitos "ainda mais destrutivos".