A ideia foi defendida por Francisco George que foi homenageado na 5.ª edição do Terra Justa, em conjunto com António Arnautt. Francisco George sublinhou que Portugal tem indicadores de saúde ao nível dos países mais ricos e tudo com menos orçamento.
Corpo do artigo
António Arnautt, o fundador do Serviço Nacional de Saúde, e Francisco George, ex-diretor geral da Saúde foram os homenageados de ontem do Terra Justa, a 5 ª edição do Encontro Internacional de causas e valores da humanidade.
Para ter um melhor SNS Portugal precisa de enriquecer, porque o progresso da economia não está a acompanhar o progresso da saúde - palavras de Francisco George numa das conversas de café do evento. O ex-diretor geral da Saúde refere que Portugal tem indicadores de saúde ao nível dos países mais ricos e desenvolvidos e tudo com menos orçamento.
Francisco George reconhece que trouxe visibilidade à saúde pública e que este foi um passo importante para o Serviço Nacional de Saúde. Travou várias batalhas. Uma delas, a batalha do açúcar. Na exposição que o município de Fafe organizou em sua homenagem viu e sorriu para uma fotografia sua com três pacotes de açúcar na mão.
Mais tarde Francisco George participou numa conversa de café sobre o que seria se não houvesse Serviço Nacional de Saúde. O atual presidente da Cruz Vermelha diz que o problema começa logo quando os portugueses nem sequer sabem o que é o SNS.
TSF\audio\2019\04\noticias\06\miguel_midoes_francisco_george_rms_maus_
Francisco George elogiou o Serviço Nacional de Saúde e relacionou os seus constrangimentos com a falta de dinheiro. A evolução que Portugal fez na saúde não foi acompanhada pela evolução da economia. "A saúde está muito à frente e era preciso que a economia nos acompanhasse. Há aqui um problema. Quanto mais riqueza, mais literacia, mais desenvolvimento e mais possibilidade. Nós não podemos ter recursos no SNS como têm países com economias muito avançadas", afirma.
E deu exemplos como a Noruega ou a Suécia. São mais ricos do que Portugal, mas os indicadores de saúde são próximos ou até melhores. "Temos aqui um fosso que não nos acompanha. É preciso não baixar a saúde pública, mas elevar a economia, que tem de ter mais eficácia, mais produção e menos desigualdades", acrescenta.
Francisco George referiu ainda o exemplo de enfermeiros e médicos que recebem ordenados baixos e por isso veem-se na obrigação de migrar ou acumular com o serviço privado. O mesmo acontece com os doentes. Ficam no público aqueles cujos privados se recusam, por questões financeiras, a fazer os tratamentos. "São bons hospitais, mas que tratam as doenças que não exigem grandes despesas. Nenhum destes grupos privados trata o cancro ou os politraumatizados. Porquê?"
Francisco George refere que é preciso um governo com determinação para resolver o problema da progressiva degradação do Serviço Nacional de Saúde.
ADSE devia ser extinta
Nesta conversa de café no Terra Justa, em Fafe, Francisco George atacou ainda a ADSE. "Devia acabar", refere o ex-presidente da Direção Geral de Saúde. "Na minha opinião, e aqui separo-me de António Arnautt, a ADSE devia ser eliminada. Há aqui um problema que permanece por resolver, que é o seguro dos funcionários públicos que agora está a financiar a atividade privada", diz. Francisco George considera que a ADSE é uma forma de financiar a atividade privada e defende uma reestruturação com firmeza.