Depois ver ver chumbada uma proposta de lei que pretendia impedir a presença de fumadores perto de hospitais e escolas - consagrando um perímetro mínimo de cinco metros - o Governo decidiu apostar na pedagogia. Seis meses depois, a TSF foi a dois hospitais, onde encontrou duas realidades distintas.
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Enquanto espera para dar entrada no internamento, Albino Alves fuma um cigarro no passeio. A porta do hospital está a cerca de dez metros. Se houvesse uma lei que o proibisse de ali estar, não protestava, mas contornava: "Andava cem ou duzentos metros, o que fosse necessário, para poder fumar."
Poucos minutos depois, perto de um caixote de lixo, com cinzeiro, Pedro Mendes acaba de acender um cigarro. Concorda que existam zonas para fumadores junto aos hospitais. "Acho bem, mas a poluição tem outros focos, como os automóveis que circulam também por aqui."
À medida que se aproxima da porta do Hospital de São João, Jerónimo Rente vai ao bolso, de onde tira o maço de tabaco. Desconhece se há zonas para fumadores. "Não sabia, mas também vejo toda a gente a fumar aqui. Até médicos e funcionários do hospital."
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A zona envolvente do Hospital de São João, no Porto, tem uma área grande e tem até alguns espaços verdes. Não existe qualquer indicação, ou sinalética, mas Renato Matos, vogal da administração, diz que é por aqui que estão espalhados os únicos pontos onde se pode fumar. "No interior do hospital é proibido. O que temos é alguns cinzeiros acoplados aos caixotes de lixo em alguma zonas no exterior", indica.
Apesar da proibição de fumar no interior, não faltam infratores. "Não raras vezes encontramos utentes e profissionais a fumar dentro do hospital".
Para reverter a situação, o hospital está a preparar uma ação para acabar de vez com o fumo de tabaco dentro do edifício. "Estamos a preparar uma campanha, com nova sinalética e vamos alertar para a infração que os fumadores estão a cometer e para as respetivas coimas. Vamos mesmo dar indicação aos seguranças para, numa primeira fase, terem uma abordagem pedagógica. Se não resultar, para identificarem os infratores", revela Renato Matos.
Dentro de dois meses, no máximo, a campanha vai estar visível. O São João responde assim à recomendação do Ministério da Saúde, que desafiou os hospitais públicos a criarem zonas para fumadores.
No IPO/Porto, a prevenção e a pedagogia são rotina há vários anos. Junto à porta, duas folhas brancas alertam para a proibição de fumar. "Quando vemos alguém a fumar, pedimos para ir para fora dos portões do hospital, porque aqui tratamos o cancro e não queremos fumo", sublinha Laranja Pontes, presidente do Conselho de Administração.
Ex-fumador, Laranja Pontes assume agora a defesa antitabaco e não hesita em atuar. "Às vezes, vejo - e deixa-me chocado - mães de crianças aqui internadas a fumarem ali fora. Vou lá ter com elas e dou-lhes um recadete."
Entre os profissionais, surtiram efeito, acredita Laranja Pontes, que nota diferenças entre o passado e o presente. "Ficaria muito triste se cheirasse a tabaco nos gabinetes. Antigamente, os médicos fumavam nos consultórios entre uma consulta e outra. Agora já não acontece."
A única zona no IPO/Porto onde é permitido fumar situa-se perto do bar, é ao ar livre, num local reservado e discreto, quase escondido. "Ali, eles contaminam-se uns aos outros. Só vai lá quem quer."
Com os doentes, nem sempre é fácil. "Temos muitos doentes que fumam e, nestes casos, apesar de advertirmos que tal não é permitido, não podemos fazer muito mais. É preciso apostar na prevenção e na educação."
Uma educação, que segundo Laranja Pontes, deve começar entre os mais pequenos e jovens, com uma prevenção primária.