O debate sobre a vacinação foi lançado no Fórum TSF, a propósito do recente surto de sarampo no Hospital de Santo António, com mais de duas dezenas de casos já confirmados.
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A falta de vacinação contra o sarampo é uma ameaça à saúde pública ou uma decisão individual que tem de ser respeitada? É compreensível que existam médicos e enfermeiros sem as vacinas em dia? Deve ou não a vacinação ser obrigatória?
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, fala numa doença "altamente contagiosa" e, no Fórum TSF, lembrou o histórico do sarampo em Portugal.
Até à década de 1970, não havia vacina contra o sarampo no país e "quase todas as pessoas contraíam a doença na infância", chegando várias delas a perder a vida, recorda Graça Freitas.
Já com décadas de vacinação, finalmente, em 2004, Portugal chega ao chamado "estatuto de eliminação" da doença, deixando de existir o risco de sarampo endémico, uma vez que o vírus selvagem já não circula no país.
Apesar disso, a diretora-geral da Saúde alerta: "Estamos sempre em risco de que entrem casos de sarampo em Portugal, vindos de outros países".
Graça Freitas indica que o recente surto no Hospital de Santo António, no Porto - que afetou, maioritariamente, profissionais de Saúde do hospital - é expectável.
"O surto enquadra-se no padrão natural para um país muito vacinado, com controlo da doença e com a doença eliminada", garantiu a diretora-geral de Saúde, que considera normal que o sarampo esteja a manifestar-se em adultos jovens, que trabalham no setor da Saúde (o que os faz estar mais expostos) e que, por terem nascido depois de 1970, nunca contraíram a doença em crianças, e têm esquemas vacinais mistos.
Graça Freitas considera que a existência de profissionais de Saúde não vacinados "é uma situação que não é desejável" e, por isso, voltou a apelar à vacinação.
"As pessoas inverteram a perceção dos riscos", declara Graça Freitas. "Antes tinham medo das doenças e aderiam muito bem à vacinação. Depois, começaram a pensar que a vacinação tinha resolvido o problema e deixaram de ter medo da doença para passar a ter medo de eventuais pequenas complicações da vacina".
É por esse motivo, defende a diretora-geral da Saúde, que o sarampo está a reemergir na Europa, onde estava praticamente eliminado.
Graça Freitas sublinha que "não vacinar não é um ato neutro"e que "as vacinas salvam vidas". "Não vacinar significa não proteger", alerta.
Também Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, participou na discussão no Fórum TSF. O bastonário garantiu que os médicos vão iniciar uma campanha, juntamente com outras ordens de profissionais da Saúde, de sensibilização para a vacinação.
Miguel Guimarães lembra que, mesmo tendo tomado uma dose da vacina, as pessoas podem ter sintomas, embora mais ligeiros, de sarampo. A diferença é que, nestes casos, não correm o risco de infetar outras pessoas.
Já a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, afirma-se totalmente disponível para informar e incentivar a população à vacinação, mas diz-se contra a obrigatoriedade da vacina, defendida pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, para os trabalhadores da Saúde.
Para Ana Rita Cavaco, não se pode exigir que todos os cidadãos se vacinem, quando não há enfermeiros em número suficiente para garantir a vacinação nos centros de saúde.
A bastonária dos enfermeiros fala ainda em má gestão no Serviço Nacional de Saúde, alegando que existem as vacinas necessárias, no país, mas que estas não chegam aos centros de saúde a tempo.
Quais os argumentos contra?
Os apologistas da vacina defendem que, para além das evidências científicas do sucesso da vacinação na erradicação de doenças, a "prova dos nove" está na forma como as vacinas mudaram o padrão das vacinas no nosso dia - como o facto de os casos de doenças como o sarampo e o tétano serem frequentes até à década de 1980 e, depois da implementação do Plano Nacional de Vacinação, terem-se tornado raros, nos dias de hoje.
Mas há também quem apresente motivos contra a vacinação. Alguns dos argumentos mais utilizados contra as vacinas são que a sua eficácia não está totalmente comprovada e que estas podem até ter mais malefícios que benefícios.
Houve estudos, no passado, que ligaram a vacinação com o desenvolvimento de autismo nas crianças, embora muitos outros estudo tenham vindo depois contrariar esta conclusão.
Há também quem alegue que as vacinas sobrecarregam o sistema imunitário e que a imunidade "natural" é melhor que a imunidade adquirida pela vacinação, e que esta é uma forma de subjugação ao rentável negócio das farmacêuticas.